Dinheiro novo para a lavoura: Como a tecnologia pode mudar o crédito rural
Por André Sollitto
O ecossistema de inovação brasileiro é conhecido pelo grau de maturidade de alguns setores. As fintechs, por exemplo, já são conhecidas no mundo inteiro. Basta ver a quantidade de unicórnios nessa área para entender o tamanho da revolução causada por essas startups no mercado financeiro: PagSeguro e Stone oferecem meios de pagamento, a Ebanx processa pagamentos e o Nubank, que hoje é um decacórnio avaliado em US$ 10 bilhões, oferece uma gama de serviços financeiros, de cartões de crédito a contas para pessoas físicas. Outro setor forte é a logística, que também tem diversos representantes avaliados em mais de US$ 1 bilhão, como o iFood, o app de delivery de comida mais popular do País, e a Loggi, que oferece diversas opções de frete. O agronegócio ainda não tem um unicórnio, mas isso é uma questão de tempo, já que as agtechs têm despertado a atenção de fundos de investimento, que passaram a atuar por aqui. E o que pode acontecer quando a inovação une dois desses setores em um movimento em um dos pontos mais sensíveis do agronegócio brasileiro? Prepare-se para a convergência tecnológica entre o agro e o mercado financeiro. Vem aí uma revolução e o alvo do momento é o crédito agrícola.
Agtechs (as empresas com base tecnológica com foco no agro) e fintechs se apressam e encaram até grandes conglomerados financeiros para encontrar novas soluções que as permitam liderar o futuro do financiamento e do seguro rural. Para entender o tamanho do desafio, é preciso conhecer um pouco do burocrático e engessado sistema de crédito rural. O produtor que precisa de recursos para investir em sua propriedade não tem tantas opções. O principal mecanismo de custeio da produção é o Plano Safra, criado em 2003 e lançado anualmente com vigência entre julho daquele ano e junho do ano seguinte, datas escolhidas por conta do calendário da safra brasileira. O plano reúne um conjunto de políticas públicas que garantem a produção. A edição de 2019/2020 do Plano prevê um montante de R$ 225,59 bilhões, sendo R$ 169,33 bilhões para crédito rural (custeio, comercialização e industrialização) e R$ 53,41 bilhões para investimentos, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. As taxas de juros também são determinadas: 3% ao ano no caso de custeio, comercialização e industrialização; 4,6% ao ano para os beneficiários do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf); 6% ao ano para o Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp); e 8% ao ano para demais produtores.
Esses recursos vêm do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e de fundos constitucionais, entre outros, e são oferecidos por instituições financeiras autorizadas a operar em Crédito Rural. Durante muito tempo, o Banco do Brasil foi o principal fornecedor dos recursos. Sua capilaridade e a forte associação com o setor consolidou essa posição. Mas, recentemente, os outros grandes bancos, como Bradesco, Santander e Itaú também passaram a atender os produtores, além de instituições especializadas, como o grupo holandês Rabobank. Como o crédito oficial é insuficiente, o produtor encontra alternativas de financiamento em revendas, tradings e cooperativas, fontes tradicionais do custeio da produção agrícola, e recursos dos próprios bancos e instituições financeiras. As condições, claro, são diferentes.
É nesse ambiente que as agfintechs (as empresas de tecnologia focadas nas questões financeiras do agronegócio) estão ganhando notoriedade, oferecendo soluções para resolver alguns dos principais problemas do setor. Os gargalos são muitos. O processo todo é muito burocrático e exige farta documentação. A obtenção dos documentos ainda é pouco digitalizada, o que dificulta ainda mais o trabalho dos produtores. A obtenção do crédito rural subsidiado é travada e exige uma série de comprovações. “Brincamos que o produtor passa seis meses na lavoura e seis meses no banco”, diz Bernardo Moscardini, CTO e cofundador da startup TerraMagna, uma agfintech especializada justamente na digitalização de processos nessa área. “O ambiente é muito regulado no Crédito Rural”, afirma Roberto França, diretor de Agronegócio do Bradesco. “Isso dificulta muito a automatização dos processos. O mercado precisa evoluir independentemente das regulações.”
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