A indústria de máquinas agrícolas salta na frente na corrida pelos veículos autônomos
Por Amauri Segalla
A pequena Crown Point, cidade americana de 20 mil habitantes no estado de Indiana, vive uma revolução tecnológica. Desde o ano passado, tratores autônomos apenas um pouco maiores do que cortadores de grama espalham sementes de morango e maça pelos campos férteis da região. Eles cruzam o terreno, desviam de obstáculos e trabalham incansavelmente, faça chuva ou faça sol, sem interferência humana. Criados pelo advogado Zachary James, filho de fazendeiros da região e obcecado por sistemas baseados em inteligência artificial, os tratores Rabbit (nome que também batiza a empresa) não têm o glamour dos carros autônomos da Tesla, Apple, Uber, Amazon ou Waymo (braço automotivo do grupo Alphabet, dono do Google). Ao contrário de seus parentes mais famosos, porém, eles deixaram a fase de protótipos para se tornarem uma realidade visível e cada vez mais aplicável. Se os carros autônomos estão muito distantes de ocupar ruas e avenidas dos centros urbanos, no campo o futuro já chegou – e ele pertence às máquinas que não precisam da mão humana para se movimentar.
Diversos motivos explicam por que as fazendas tomaram a dianteira nesse processo. “A primeira razão tem a ver com segurança”, diz o consultor Eduardo Tancinsky, especializado em tecnologia. “Nos últimos dois anos, uma série de acidentes, inclusive com vítimas fatais, mostraram que os autônomos estão muito longe de ser adotados nas cidades com a garantia de que não colocarão humanos em risco.” Recentemente, um estudo da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos, concluiu que os autônomos urbanos só estarão prontos para ser adotados a partir de 2028, sendo que a previsão inicial era 2025. Parceira de companhias como Toyota e Ford, a Universidade de Coventry, na Inglaterra, projeta que os carros autônomos estarão disponíveis no mercado até 2025, mas não será surpresa para ninguém se novos atrasos surgirem pelo caminho.
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O consultor Tancinsky prossegue na análise: “Nas fazendas, o risco de acidentes é próximo de zero, já que não há pessoas na rota dos tratores e a velocidade das máquinas é muito menor”. De fato, os campos agrícolas, ao contrário de ruas, avenidas e estradas, não têm pedestres ou motoristas imprevisíveis. Acidentes podem acontecer, mas seus efeitos são menos danosos. Em entrevista recente para um site americano especializado em assuntos rurais, Zachary James disse que os tratores Rabbit já provocaram uma colisão. “Eles bateram uma vez em uma árvore, mas ela sobreviveu”, brincou. Segundo o empresário, seus veículos têm velocidade média de 11 km/h, enquanto os carros autônomos da Uber, por exemplo, chegam facilmente a 80 km/h. Quanto mais baixa a velocidade, mais tempo a máquina tem para processar dados e reagir adequadamente – foi a velocidade excessiva de um autônomo da Uber que provocou um acidente com vítima fatal em 2018. “Vai demorar muito para que uma família confie que um carro sem motorista leve uma criança, por exemplo, para a escola”, diz o consultor. “Duvido que um fazendeiro se recuse a usar autônomos em suas lavouras por temer que eles atropelem alguém, simplesmente porque isso não tem chance de acontecer.”
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