Artigo: Os impactos da transformação digital e a aceleração dos processos tecnológicos no agro
por Pedro Leal Noce, gerente de Inovação Digital da Raízen
Ninguém sabe ao certo o que acontecerá depois que a pandemia do Covid-19 terminar. No entanto, já percebemos alguns apontamentos e não há dúvida de que teremos uma sociedade mais digital, tornando-se, na prática, uma sociedade muito mais conectada. Muito além das reuniões por vídeo-chamada que já se tornaram hábito durante a quarentena, este período tem servido como uma potente mola propulsora na aceleração dos processos de transformação digital nas empresas, mercados e principalmente na comunicação entre as pessoas.
Soluções digitais têm sido impulsionadas à medida que se revelam eficazes para endereçar os mais variados desafios que a crise impõe a todos. O confinamento tem ensinado que romper barreiras e desconfianças com o mundo digital é mais do que necessário. Na prática, a digitalização tornou-se aliada e nos mostrou como custos de transação podem ser significativamente reduzidos e ganhos de produtividade aumentados a partir do uso mais intensivo e inteligente de mecanismos digitais.
Nas empresas, o isolamento imposto pela pandemia acabou por acelerar a implementação das atividades em home office, garantindo segurança e afetando de maneira positiva a produtividade e interação entre colaboradores. O teletrabalho já era algo previsto na agenda das empresas há pelo menos uma década porém, com o cenário de pandemia, todos os setores que podem manter seus colaboradores em casa estruturaram rapidamente ferramentas por meios digitais para que as atividades continuassem funcionando.
O cenário atual é sem dúvida muito desafiador, mas representa uma oportunidade sem precedentes, principalmente para um dos maiores setores da economia do Brasil, como é o caso do agronegócio. Em 2019, o agronegócio representou 21,4% do PIB nacional, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Os dados mostram que o mercado tem grandes perspectivas de crescimento e o grande impulso para esse avanço é a tecnologia e a transformação digital aplicada dentro e fora do campo: a chamada agricultura 4.0. Dentre as principais vantagens, podemos destacar a automatização de processos, controle maior sobre as demandas, aprimoramento dos métodos de trabalho, redução das falhas operacionais, entre outros. Esses pontos são fundamentais em tempos de instabilidade, pois ajudam a aumentar a produtividade e a potencializar os ganhos em eficiência.
A tendência é que, pós-pandemia, o agronegócio sofra transformações profundas que devem acelerar a digitalização dentro desta cadeia e a construção de marketplaces do setor. No campo, o papel das agtechs já tem facilitado o trabalho dos produtores, por exemplo, seja pelo uso de drones para mapear a fazenda ou por meio de aplicativos que auxiliam no melhor uso de insumos. Como consequência, através destes implementos tecnológicos, é possível gerar um aumento de produtividade e observar redução de custos nos processos realizados no campo.
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No caso do uso de drones, a tecnologia permite grandes avanços nesse cenário, podendo auxiliar no mapeamento mais assertivo de falhas de plantio, por exemplo. Além disso, sua utilização torna os processos mais econômicos e ecologicamente mais sustentáveis, uma vez que tudo pode ser operado remotamente, via sinais de satélite e com um alto emprego da inteligência artificial. Com isso, o uso deste tipo de inovação permite não só ganhos operacionais, mas também o desenvolvimento de novas iniciativas que auxiliam o desenvolvimento dos processos produtivos no campo.
Outras vertentes da tecnologia desenvolvidas por startups que estão sedo impulsionadas dentro deste novo cenário em que passamos a conviver foi o aumento no volume de soluções de planejamento e gestão, assim como oportunidades que surgiram através das agfintechs. Startups do setor agro voltadas para o desenvolvimento de soluções de crédito que estão ganhando relevância, já que passaram a criar ferramentas para mitigar impactos no setor, criando soluções úteis para a tomada de crédito, permitindo a emissão de ativos agrícolas por meios eletrônicos, assim como registros e assinatura digital por parte dos credores, garantindo assim, a diminuição de riscos e assegurando aos produtores a compra de insumos na época certa para a próxima safra.
Neste cenário apresentado pela pandemia de Covid-19, onde a segurança entra em cheque, os novos modelos de negócios digitais podem contribuir para gerar cadeias produtivas mais curtas e mais eficientes. Quem está atento a essas oportunidades têm mais chances de aproveitá-las corretamente.
Neste momento de muitas perguntas e poucas respostas, sabemos que muitos desafios e adaptações ainda estão por vir. No que tange as questões relacionadas ao campo, ainda teremos de conviver com aspectos inerentes ao setor, como a falta de conexão e sinal e a demanda por atender uma das maiores extensões agrícolas do mundo. Contudo, sem dúvida o cenário trará inovações disruptivas e a aceleração de processos, redesenhando toda a complexa cadeia do agro e da sociedade como um todo.