A urgência de um campo conectado
O surgimento de novas tecnologias de transmissão de dados impulsiona a internet de forma incontestável. Esse avanço é acompanhado por uma inclusão social, promovida por preços mais competitivos nos serviços, ampliando a base de consumidores. A mais recente pressão sobre essa oferta tecnológica ocorreu com o início da pandemia do covid19, quando os mais variados segmentos tiveram que se reinventar no meio digital. E sem dúvida nenhuma a mais aguardada de todas é a banda 5G. Porém a conectividade anda muito mais rápida do que se imagina.
No país o acesso à internet é fornecido por redes móveis como o 4G e a rede fixa de banda larga, tanto para o campo como para a cidade. Entretanto, o desafio continua sendo a conectividade no campo. Existem diversas iniciativas que se propõem a solucionais parcialmente o problema. O Google desenvolveu um projeto chamado Loon, mais tarde renomeado para Taara, que tinha como objetivo levar conexão às áreas remotas por meio de balões. Esse mesmo projeto hoje estuda a oferta de sinal à internet por feixes de luz. Seguindo essa mesma linha de oferta de serviços de conexão à internet em regiões afastadas dos grandes centros, a americana Hughes Communications possui satélites dedicados. Ideia consolidada muito antes da badalada Starlink de Elon Musk. Ainda mais provocante foi a ousadia da China, colocando em órbita no final do ano passado o primeiro satélite com tecnologia 6G. Apenas para se ter uma noção do que isso significa, a 6G é 100 vezes mais rápida que a atual 5G, que ainda não opera plenamente no Brasil. Segundo a CGTN, estatal chinesa de notícias, a tecnologia 6G será empregada para construção de cidades inteligentes, proteção e prevenção de desastres ambientais.
Porém, mesmo com toda essa disponibilidade de tecnologia de ponta para acesso à rede mundial de computadores, o campo brasileiro sofre com a desconexão. Um problema com prejuízos significativos para o país como veremos a seguir. A dimensão do problema é tão grande quanto o próprio país, sendo que atualmente apenas 23% da área rural brasileira possui algum tipo de conectividade, de acordo com Cléber Soares, Diretor de Inovação do MAPA. As demoras para implantação de tecnologias como a 5G soma-se ao já gigantesco prejuízo. Agora a luta é para amenizar o problema e garantir que o leilão da 5G no Brasil garanta uma ampliação da conectividade na área rural, segundo Cléber.
Enquanto o mundo fala em 6G e redes de satélites para melhorar a conectividade, seguimos brigando por tecnologias de terceira e quarta geração. Haja visto as discussões sobre as ofertas do leilão da 5G, que inclui, acreditem, ofertas de 4G e uma faixa de 700 Mhz tida como ideal para áreas rurais. Acredita-se, por exemplo, que essa faixa de 700 Mhz poderia ser ofertada por pequenos e médios provedores.
Não apenas o campo sofre, mas a área urbana brasileira também tem seus desafios de conectividade. Embora cerca de 90% dos municípios e da população brasileira tenha cobertura 4G, essa ocorre apenas nos municípios-sede, enquanto nossas vilas e povoados se encontram sem nenhum tipo de cobertura.
O Agro com crescente demandas
Há outros agravantes no sistema de conectividade rural. Por exemplo, no Nordeste estão 50% de todas as propriedades rurais sem acesso à rede, segundo Joaci Franklin da CNA. A demora no leilão para oferta da 5G pode atrasar de dois a quatro anos a chegada de sinais a estas regiões e não há como mensurar os prejuízos destas demoras. Entretanto, ainda que superado esses desafios, pode ser que essas regiões recebam sinais 4G e da banda de 700 Mhz, possivelmente em um momento em que o mundo falará mais seriamente sobre 6G ou tecnologias ainda mais avançadas.
Esse impacto negativo decorrentes de consecutivos atrasos, poderia ser amenizado se no leilão da 5G, houvesse a obrigação das grandes operadoras ofertarem o uso secundário do espectro de 700 Mhz para a entrada de pequenas e médias operadoras a partir de preços definidos pela ANATEL, de acordo com a opinião de Tomas Fuchs da Datora Telecomunicações Porém mesmo que isso ocorresse, ainda seria necessário que essas pequenas e médias operadoras tivessem acesso à crédito e incentivos, como redução da tarifa de ICMS, para atendimento destas áreas rurais sem conectividade, completa Tomas.
Uma conectividade que não escapa ao olhar crítico
Embora haja um grande entusiasmo quanto a chegada da banda 5G, ela não vem sem críticas. O padrão standalone que pretende ser adotado é o alvo. Segundo o deputado Arnaldo Jardim, esse tipo de padrão não permite a reutilização da rede 4G e exige um novo investimento por parte das operadoras, o que atrasará ainda mais a chegada do serviço e obviamente será mais caro do que o esperado. Ainda segundo o deputado, o agricultor no interior não tem conexão e tem pressa.
Existe ainda uma preocupação com o alcance da rede 5G. As novas tecnologias que vêm chegando no agro para estimativa de safra, monitoramento de animais, colheita automatizada, pulverização automática, detecção de pragas e doenças, entre outras, demandarão essa banda específica, segundo Silvia Maria Fonseca, da Embrapa Informática Agropecuária. O uso de sistemas ultrapassados de redes pode não resolver o problema de conexão e restringir o uso das novas tecnologias embarcadas para o agro.
A falta de conectividade também pode ser um dos causadores do êxodo rural. Estima-se que existam 3,8 milhões de fazendas sem internet no Brasil. Acelerar a democratização do acesso, com sinais de qualidade, pode significar retenção das pessoas no campo, evitando problemas sociais. Além disso, 90% das propriedades com menos de 10 mil hectares nunca usaram agricultura de precisão, por problemas de conectividade e 21% dos moradores de zonas rurais não tem acesso à internet, de acordo com Tomas Fuchs.
Os impactos da melhor conectividade no campo
Os impactos de uma conectividade efetiva no campo são impressionantes. Se a oferta de sinal à internet fosse duplicada imediatamente, haveria um crescimento de 6,3% no valor bruto da produção agrícola brasileira. Entretanto, se 80% do espaço agrícola nacional tivesse qualquer tipo de cobertura, mesmo que fosse do tipo 3G ou 2G, o crescimento seria da ordem de 10,2%. Números esses citados por Cléber Soares. Esses valores justificam a urgência de se expandir a conectividade ao maior número de produtores rurais possíveis. A resolução desse problema é uma fronteira de oportunidades para o crescimento e a retomada da economia brasileira. A digitalização do espaço agrícola implica na solução de questões do dia a dia do produtor e a consolidação do papel do agronegócio brasileiro na segurança alimentar global.