As mudanças do perfil de investimentos no agfoodtech global e cenários para 2022
Nos últimos anos AgriFoodTech cresceu 15,5%, trazendo aproximadamente 26 bilhões de dólares em investimentos para o mercado global.
O complexo global de AgFoodTech apresentou transformações significativas no ano de 2021. A mais evidente foi uma inversão nos perfis e destinos dos investimentos. Para se ter uma noção da dimensão desta inversão, investimento em startups upstream aumentaram 68% no comparativo anual. Somente o segmento de startups Innovative Food dobrou o aporte de investimentos para US$ 2,3 bilhões. A própria StartAgro já havia chamado a atenção para essa ressignificação do sistema alimentar.
Na mesma tendência as startups posicionadas em midstream tech recebram US$ 5,3 bilhões em investimentos e fecharam 30% mais ofertas no ano de 2020 do quem em 2019. Não há dados atualizados para o ano de 2021 por enquanto, mas as previsões é de que haverá outra série positiva de investimentos no segmento. Isso é um forte indicativo de que as startups dessa linha estão chamando a atenção dos investidores pela oportunidade de escalabilidade das inovações nesse setor.
Na ponta do sistema estão as startups do eGrocery que levantaram em 2021 o valor de US$ 5,1 bilhões de investimentos. Este volume de investimento foi estimulado principalmente pela aceleração do marketplace digital de alimentos, fortemente acelerado pela demanda agressiva trazida pela pandemia de covid19.
Paralelamente, vemos que o segmento de AgBiotech perdeu força nos investimentos, mas ainda assim alcançou a marca de US$ 1,6 bilhão, o que significa um aumento de 60% em relação ao ano anterior. Casos de sucesso nesse setor foram destaques no Brasil, como o da Agrivalle. Apesar da migração dos investimentos, isso não significa que o segmento AgBiotech tenha perdido força, mesmo porque não houve retração no volume de investimentos e sim uma mudança na porcentagem em relação ao volume total dos aportes. Exemplo disso, foi o lançamento do Vale do Genoma em Guarapuava no Paraná, apostando forte na criação e escalabilidade de startups de biotecnologia.
Reforçamos o crescimento de 60% no valor de investimentos em AgBiotech, no entanto, o que estamos demonstrando é uma mudança de tendência do perfil de investimentos nas startups de agfoodtech. Nos últimos 10 anos os investimentos foram concentrados em agricultura digital, IoT e inteligência de dados. Pouca ou nenhuma atenção era dada às startups upstream e midstream. Os investimentos acelerados no setor são o resultado de uma preocupação dos consumidores, que se viram ameaçados por uma possível falta de suprimentos da cadeia agroalimentar. Além disso, a pandemia causada pela covid-19 trouxe novas demandas para o mercado, principalmente em relação às compras online e serviços prestados de modo remoto.
Não há dúvidas, como relatado no início dessa matéria, que o vírus causador de toda a crise sanitária e social iniciada em 2020, foi o catalisador desse fenômeno no AgriFoodTech. A extensão do problema ao longo de 2021 realmente intensificou ainda mais o o ritmo de aceleração, levando a uma taxa exponencial de crescimento, fazendo deste um setor muito mais promissor que outros segmentos econômicos.
Nossa expectativa é de que esse ritmo de investimentos continue acelerado, incentivado por uma aproximação do público de forma mais real a questões de mudanças climáticas, sustentabilidade e economia circular, estimulados principalmente pela COP26.
Em termos de ecossistema brasileiro de agfoodtech não será diferente. Há uma constelação de startups em diferentes estágios de desenvolvimento atuando nessa área de alimentos alternativos e certamente são boas apostas para investimentos com altíssima chance de crescimento acelerado.
Mateus Mondin
Professor Doutor
Departamento de Genética
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ
Universidade de São Paulo
Editor Chefe da StartAgro