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Agrishow é show, mas precisamos de mais espaço para ciência, tecnologia e inovação no agronegócio

O Agrishow é fascinante e não está diferente nessa edição de 2023. São quase 30 anos de história e uma trajetória de amadurecimento que leva a feira mais moderna da América Latina para um nível de consolidação muito forte. É uma feria de tamanhos e números impressionantes. O espetáculo que cada expositor oferece é de colocar brilho nos olhos em todos os visitantes que passam pela exposição. Ao longo dos anos os expositores foram mudando seu modelo de negócio com a Agrishow e para muitos essa é a semana mais importante em fechamento de negócios. Já ouvi de muitos C-levels que o maior faturamento de suas empresas acontecem na semana do Agrishow. Não é incomum encontrar empresas com quase todos os seus funcionários completamente dedicados à feira, tamanha a importância da semana em termos de negócios. Não temos ainda os números deste ano, mas não é incomum ouvirmos nos últimos anos cifras que ultrapassam os bilhões de Reais. É uma demonstração do poder e da força do agronegócio brasileiro. Outra coisa que me fascinou nessa edição, após um intervalo bastante longo, foi a presença de estrangeiros. Não que não houvesse no passado, mas sinto um sensível crescimento na participação de outros países.

Todos esses números e escalas da Agrishow são impressionantes, mas o que de fato faz a diferença na feira é a inovação tecnológica. A cada ano as empresas se superam na oferta de tecnologias. Desde a oferta de serviços de agricultura de precisão e digital até a apresentação do primeiro pulverizador totalmente autônomo comercial do país e talvez um dos únicos no mundo, o que realmente leva milhares de pessoas ao Agrishow é o avanço tecnológico. Ao caminhar pela feira e conversar com os visitantes de forma aleatória, é invariável as expressões de surpresa com relação ao que se está apresentando em termos de maquinários, seja de um novo caminhão, seja de um novo trator ou uma plantadeira ou um pulverizador ou de uma colheitadeira.

Assim, a Agrishow cumpre seu papel como feira de tecnologia, inovação e negócios. O Agrishow é um caso de sucesso e um empreendimento muito bem sucedido e maduro como reportei acima.

Porém, embora as máquinas causem um fascínio quase que alucinante, elas representam uma fração do que de fato é inovação e tecnologia no agronegócio.

Após essa minha passagem pelo Agrishow deste ano, voltei pensando exatamente sobre isso e fiz uma retrospectiva mental sobre a história dessa feria. Essa análise que farei a seguir, de forma alguma deve ser interpretada como uma crítica, pois não é. Trata-se apenas de uma reflexão, talvez saudosista, mas muito oportuna sobre levar a ciência, tecnologia e inovação, para as pessoas que realmente farão uso ou serão os futuros desenvolvedores das novidades, daqui a pouco o leitor entenderá melhor o que quero dizer.

Mas antes de começar, reforço, a Agrishow é uma feira madura e consolidada, merecedora de todos os elogios.

Me lembro da primeira Agrishow com muita alegria e me lembro do entusiasmo dos visitantes indo para as seções de campo onde haviam demonstrações de todos os tipos, lembro-me também de vários expositores com pequenos plantios de seus híbridos de milho exibindo majestosas espigas e lembro-me também de stands de várias estatais agrícolas também apresentando seus materiais genéticos, serviços e pesquisas. Anos mais tarde voltei a participar da Agrishow como colaborador do stand da minha própria universidade. Naquela época a ESALQ-USP [Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – Universidade de São Paulo] tinha uma exposição enorme, onde apresentávamos nossos laboratórios, pesquisas, serviços e extensão, cursos de especialização e também nossos cursos de graduação e pós-graduação. Era uma oportunidade única de interagir com o público em geral e aproximá-los do que acontecia dentro da universidade. Da mesma forma era uma experiência ímpar para nós de dentro da academia se aproximar do público e sentir suas percepções, anseios e necessidades. Me lembro dos stands de outras universidades fazendo esse mesmo perfil de exposição para o público. Lembro-me do público fascinado, envolvido e cheio de perguntas para o que estávamos mostrando. Esse era um momento único de interação, integração e transferência de conhecimentos. Era a oportunidade de esclarecer o público sobre dúvidas a respeito das pesquisas, das tecnologias que estavam chegando ao campo e daquelas que ainda estariam por vir. Naquela época ainda estávamos longe da febre das startups, mas fico imaginando se elas estivessem naquelas feiras, exibindo suas tecnologias no campo, tendo o público a chance de toca-las e vê-las em ação, como era feito com vários equipamentos das grandes empresas.

Há sim hoje um pavilhão na feira contemplando a inovação tecnológica e as startups, mas confesso que achei um pouco tímido frente ao que temos hoje no Brasil.

De forma alguma estou sugerindo ou apontando que isso seja responsabilidade da Agrishow. De forma alguma! A feira como disse está linda e bem definida. Evoluiu naturalmente para o que ela deve e tem que ser.

Por outro lado, devemos repensar sobre essas oportunidades de exposição de tecnologias e inovações que vão além das máquinas; mostrar a genética, a biotecnologia, as soluções biológicas, expor as universidades, os institutos de pesquisas e toda a ciência que se desenvolve lá dentro. Trazer os professores, os pesquisadores, os estudantes de graduação e pós-graduação para interagir com o público e fazer renascer esse espaço tão formidável de interação com público. Precisamos dessa oportunidade, precisamos desse espaço, precisamos dessa aproximação, precisamos interagir, integrar, criar para avançarmos ainda mais e uma feira complementando o Agrishow seria sensacional.

Editado por

Mateus Mondin

Professor Doutor

Departamento de Genética

Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ

Universidade de São Paulo

Editor Chefe da StartAgro