Tem espaço para as startups de agro no Shark Tank Brasil?
Reality Shark Tank Brasil confirma nova temporada neste ano. Será que o boom das startups de agro não mereceria maior atenção no programa de empreendedorismo?
Por João Rodriguez
Depois de fazer tanto sucesso a ponto de ganhar espaço até na TV aberta, no mês passado o Canal Sony anunciou que as inscrições para o programa Shark Tank Brasil começaram e vão se estender até o meio deste ano. O “The Voice do empreendedorismo” com estreia prevista para o segundo semestre de 2018, tem seguido o sucesso da versão original americana. Prova disso é que, entre a primeira e a segunda temporadas, registrou pelo IBOPE um aumento de 104% em audiência. Apesar da expectativa para a próxima temporada com números tão expressivos, uma parte importante da economia tem recebido pouco espaço no reality até agora: apenas 3 empreendimentos do setor do agronegócio chegaram a enfrentar o tanque de tubarões.
A história do programa é meteórica: em 2009 a rede de TV americana ABC decidiu adaptar uma versão da série britânica Dragons’ Den,. A ideia era seguir a mesma linha dos ingleses, criar um reality que mostrava o desafio de empreendedores expondo seus produtos em um pitch de 50 minutos para 5 grandes investidores, que mais tarde seriam conhecidos como sharks.
Reality de empreendedorismo
O Shark Tank teve ótima repercussão, ganhou o prêmio de Melhor Programa de Reality Show Estruturado e, em nove temporadas, teve uma média de 6 milhões em audiência nos EUA. Era questão de tempo para que seu modelo fosse importado para cá, o aconteceu em 2016.
Difícil apontar um fator que explique o boom série, mas é certo que uma das fórmulas para o sucesso é o reality em si. “É tudo verdade, nada combinado. Nós não temos conhecimento [do produto] até a entrada do empreendedor”, explicou no programa ‘The Night’ o empresário João Appolinário, fundador da Polishop e um dos Sharks nas duas temporadas que já foram ao ar no país.
A partir daí, o vendedor tem que tentar convencer os tubarões a comprarem parte de sua empresa, e a bolada é real. Mais de R$ 16,5 milhões já foram investidos num total de 44 negócios dos 133 já televisionados. “O Shark Tank traz um modelo de sucesso, isso é um diferencial, porque às vezes as pessoas têm negócios, mas não têm acesso para fazer aquilo crescer”, defendeu João. “O Brasil é rico em empreendedores e no reality eles conseguem o espaço que precisam”.
O programa ainda esclarece jargões de empresários, além de ensinar muito sobre negócios, não só com os erros e acertos dos participantes, como também com a mentoria dos jurados. Nomes como Robinson Shiba, fundador do China In Box, Caito Maia (Chilli Beans), Carlos Wizard (Wizard) e Cristina Arcangeli (Beauty In), além da investidora-anjo Camila Farani (Gávea Angels) e o cantor Sorocaba, também engrossam essa lista.
No programa de Danilo Gentilli, o sertanejo defendeu a ideia da série como uma saída para a crise. “Acho que o momento que o Brasil está passando precisa de um reality que estimule o empreendedorismo, que vá fazer o Brasil se movimentar e sair da crise, tem tudo a ver”.
Agro no Shark Tank Brasil
É curioso notar que, apesar de já ter contado com um nome do agronegócio entre os Sharks, como o Sorocaba, o reality teve apenas 3 negócios do setor, sendo que nenhum conseguiu investimento: a empresa mineira de monitoramento e gestão ‘NextAgro’, a ‘Noocity’, empreendimento ecológico de agricultura urbana e a loja virtual para comercialização de adubos orgânicos, ‘Bosta em Lata’.
Este último pode soar no mínimo curioso, mas o dono da empresa que oferece os insumos, Leonardo de Matos Malacrida, garante que foi a grande sacada no programa. “O aumento da visibilidade foi impressionante. O nome do adubo ajudou, pois fomos citados em matérias.”
Em seu pitch, ele contou que, depois de falir várias vezes, foi incentivado a não desistir. Segundo seus amigos, ele tinha potencial para “vender até bosta em lata”. A tentativa no programa quase deu certo, e Cris Arcangeli até tentou comprar metade da empresa, mas, segundo as palavras dela, “ele não quis vender”.
Apesar de não ter conseguido investimento, Leonardo não se arrependeu. “O fato de não termos fechado negócio de certa forma foi bom para nós, acredito que não estava com a empresa preparada para a entrada de um sócio”, contou.
Know-how no agronegócio
De qualquer forma, ele não escondeu a satisfação em ter ido ao tanque de tubarões. “Foi emocionante participar do programa, pois conseguimos entender melhor sobre a nossa empresa e saber onde deveríamos agir para seguir em frente”. O empreendedor vê um espaço para o agro, mas a resposta está lá no tanque. “Acredito que possa estar ligado ao interesse e perfil dos Sharks”, conta. “Agora que o Sorocaba saiu, espero que na 3ª temporada entre alguém com know-how no ramo, pois seria uma pena ver o setor que move o Brasil continuar de forma tímida”.
A assessoria do Canal Sony declarou que ainda não vai anunciar os Sharks dessa temporada e que o programa já recebeu diversas inscrições de startups do agronegócio, que seguem em processo de seleção. “[Os sharks] querem fazer um bom negócio”, explica Rafael Loschiavo, CEO da Noocity, outra empresa agro que participou do reality. “Apresentei no programa que o nosso foco é agricultura urbana, queremos passar a ideia de que podemos produzir, não apenas consumir”. Apesar de possuir sedes internacionais, o empreendimento não conseguiu investimento no programa. “É importante caprichar nos números, o valuation é levado muito em conta por eles”, diz Rafael.
“Incentivo quem está inovando no agro e queira ver seu produto ou serviço exposto na mídia e precise de um sócio a participar do programa. É uma maneira de captar recurso e ter uma mentoria de um grande empreendedor”, aconselha Leonardo. Resta ao produtor interessado no desafio garantir seu cadastro e preparar bem o seu pitch.
As inscrições para a nova temporada que deve estrear no segundo semestre de 2018 estão disponíveis no site do Canal Sony br.canalsony.com/sharktankbrasil/inscricoes. Para participar, é preciso residir no Brasil e ter mais de 18 anos.