Conheça a duLocal, startup que quer mudar o sistema alimentar do mundo
Selecionada para o programa de aceleração da Estação Hack, centro para inovação do Facebook e da Artemisia em São Paulo, a startup duLocal tem uma proposta bastante diferente das outras escolhidas. Ela oferece refeições balanceadas, preparadas por cozinheiras de periferias e com ingredientes orgânicos vindos de pequenos produtores. Mas as caixinhas de comida entregues diariamente a clientes em São Paulo escondem uma ambição muito maior: “Quero mudar a maneira como o sistema de alimentos está estruturado no mundo”, diz Felipe Gasko, fundador e um dos sócios da empresa.
O que as pessoas recebem ao encomendar um prato da duLocal, ao preço de R$ 25 (mais R$ 5 de taxa de entrega) é a síntese de um sistema que leva em conta todas as etapas da produção. Produtores da CooperApas, uma cooperativa de Paralheiros, na região sul de São Paulo, fornecem dados sobre o que será colhido naquela semana. Essa informação é cruzada com um grande banco de receitas. Com o menu estabelecido, os insumos são entregues a uma rede de cozinheiras capacitadas pela startup, que preparam os pratos em suas cozinhas. No dia seguinte, às 11h, todas as caixinhas são levadas ao centro de distribuição, no bairro da Vila Olímpia, e de lá seguem para os consumidores finais. “A duLocal é uma plataforma de escoamento tanto do pequeno produtor quanto das refeições da cozinheira. Entramos com a tecnologia e a facilitação da logística”, diz Felipe.
A startup é o resultado de uma longa trajetória. Felipe é formado em engenharia ambiental e já trabalhou na Endeavor, organização de apoio ao empreendedorismo. Apaixonado por comida, passou por unidades dos restaurantes do chef inglês Jamie Oliver em São Paulo, Campinas e Londres. Quando voltou ao Brasil, montou, ao lado de sua irmã, a Fazenda Malabar. Em atividade até hoje, ela entrega cestas de alimentos orgânicos aos clientes. “A fazenda é uma grande escola, porque lá estamos fazendo um cultivo agroecológico, que é basicamente o cultivo do solo”, afirma o empreendedor.
Quando decidiu criar uma nova empresa, foi para São Carlos validar seu MVP. Em 2018, contratou uma equipe em São Paulo e levou todo mundo para testar o sistema entre agosto e dezembro do ano passado. Captaram um investimento anjo e se estabeleceram na capital paulista. As entregas começaram no dia 1º de abril, e desde então o faturamento tem crescido 70% por mês.
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Por enquanto, o foco tem sido no cliente, garantindo o aumento da produção sem perder a qualidade. A duLocal entrega 80 pratos por dia, e o número deve crescer para 100 em breve. Isso será só o começo. O objetivo de Felipe é escalar o modelo de produção. “Estamos viabilizando uma agricultura regenerativa de pequena escala com boa remuneração para o produtor”, diz ele. Eles já têm um projeto de aplicativo que vai unificar os dados e dar feeback de plantio aos produtores. E trabalham de maneira a comprar todo o mix oferecido pelo agricultor, e não apenas um ou outro legume “Essa é a grande sacada”. Uma vez que tudo estiver rodando de maneira eficiente, ele acredita que o formato poderá ser levado para qualquer lugar do mundo.
“Isso está no zeitgeist”, diz o empreendedor, usando a expressão estrangeira para o “espírito da época”. “Você vai para os Estados Unidos ou a Europa e só se fala em alimentação orgânica, local e saudável. As pessoas estão preocupadas com as mudanças climáticas e o impacto de algumas práticas”. Inspirado no trabalho de grandes chefs, como o americano Dan Barber e o francês Alain Passard, o importante é oferecer uma comida deliciosa e saudável. “Através da tecnologia, a gente consegue viabilizar uma comida gastronômica vinda do pequeno produtor para todo mundo”, diz Felipe.