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A manobra intraempreendedora de um gigante no varejo

 

Recentemente acompanhamos o dramático caso do navio Ever Given que ficou encalhado no canal de Suez no Egito. O gigantesco navio de mais de 400 metros de comprimento e quase 60 metros de largura e que chega a transportar 20 mil contêineres, precisou de uma enorme operação para que pudesse retomar seu caminho e com prejuízos enormes. Ao que tudo indica as condições ambientais desfavoráveis, como falta de visibilidade e fortes rajadas de vento, seriam as razões para o acidente. De fato, manobrar uma embarcação desta proporção em um clima totalmente desfavorável, não é tarefa fácil, mesmo para o mais experiente capitão.

O caso do navio Ever Given pode se comparar ao que os gigantes do complexo AgriFood tiveram que enfrentar no último ano. A pandemia do covid19, acompanhado do isolamento social e as restrições de circulação de funcionários e clientes, é como comandar um navio em clima hostil.

Foi essa a situação que Noël Prioux, Stéphane Engelhard e Lucio Vicente tiveram que enfrentar a frente do gigante Carrefour Brasil. O grupo teve que se adaptar em tempo recorde à nova situação. Não deve ser nada fácil manobrar uma estrutura que conta com 283 lojas de varejo, 206 de atacadistas e mais de 95 mil colaboradores dos mais diferentes níveis. Prioux, que é o CEO do grupo no Brasil, não teve dúvidas em partir para avançar no uso de tecnologias e acabou acertando em cheio a manobra deste imenso navio em meio a turbulência. O sistema digital foi reformulado integralmente e com isso atingiu 75% dos clientes recorrentes da rede. Além disso, para as lojas que atendem o sistema de atacado, foi desenvolvido um marketplace exclusivo. O sistema além de atender os clientes de forma remota, também conta com um sistema de entrega rápida. O que é fundamental para manter a rede de pequenos varejistas com manutenção de estoques e atendimento de comunidades locais.

Esse é um caso típico de intraempreendedorismo, ou seja, a busca por oportunidades de empreender e inovar dentro da própria empresa. E não apenas isso, mas se aproveitando dos colaboradores que fazem parte do sistema, principalmente valorizando suas aptidões. E o comando dessa grande operação compreendendo a importância da sua tripulação de colaboradores, não perdeu tempo e ofereceu quase 15 mil horas de treinamentos, considerando apenas duas frentes. Para a manutenção da saúde foram capacitados mais de 37 mil colaboradores, com a missão de serem replicadores para o restante da equipe. Quando voltamos para o cenário tempestuoso, isso só é possível com adoção de muita tecnologia. Certamente esses números já seriam impressionantes em uma situação normal e com livre circulação. Entretanto, em meio a uma pandemia isso se torna ainda mais relevante. A visão de oportunidades no empreendedorismo social, também foram consideradas. Entendendo que muitas famílias estavam em situação de vulnerabilidade, foi elaborado um projeto de apoio que distribuiu mais de 600 mil cestas básicas. Outro projeto que ganhou atenção na área foi o da plataforma de inclusão de grupos minoritários, que embora exista desde 2012, avançou consideravelmente no último ano. Além do programa Adote um Parque, que tem como finalidade cuidar do bem-estar das pessoas através do meio ambiente.

A área de sustentabilidade também passou pela febre o intraempreendedorismo que com foco em economia circular, elaborou um projeto para reciclagem de resíduos e combate de desperdícios, que deve chegar a 100% em apenas apenas 4 anos. Hoje são impressionantes 50% e no próximo a no deve alcançar a marca de 70%. O programa liderado por Lucio Vicente, Diretor de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade, tem a ambição de se tornar a referência nacional em transição alimentar, alimentos saudáveis e acessíveis, inovação e digitalização, gestão socioambiental, conscientização e acesso a produtos saudáveis, economia circular, mudanças climáticas e ecoeficiência, sempre fiscalizando a compra e revenda de alimentos atrelada a origem e como foram produzidos.

Dentro do contexto da sustentabilidade, há a preocupação com as questões climáticas globais e um trabalho voltado para a redução da emissão de gases de efeito estufa, segundo Engelhard, vice-presidente de Relações Institucionais. Por exemplo, nesse assunto, foi feita uma total revisão da malha logística que permitiu uma neutralização das emissões de gases do balanço total. O grupo também passou a monitorar 100% das fazendas e dos frigoríficos que atendem a rede no suprimento de carne. A ênfase é nas questões climáticas e de desmatamento, garantindo ao consumidor a originação de produtos com qualidade ambiental.

Muito se questiona sobre intraempreendedorismo, principalmente em grandes operações. Questões como se isso vale a pena, terá retorno, não atrapalhará o que já está otimizado, são sempre recorrentes, além de uma grande resistência por parte das equipes gerenciais e operacionais. Aparentemente o grupo Carrefour está satisfeito com a adoção do intraempreendedorismo. A manobra deste grande navio, em analogia ao Ever Given do início da matéria, permitiu um aumento de 20,1% nas vendas brutas e um crescimento do lucro líquido da ordem de 4,1% em relação ao ano anterior sem pandemia. Para se ter uma dimensão dos que isso significa, isso é da ordem de quase R$ 75 bilhões para as vendas e R$ 2,76 bilhões para o lucro líquido.

Enxergar em meio a tempestade, saber engajar seus colaboradores, inovar e aproveitar as crises para gerar oportunidades, é isso que se espera de grandes líderes e empreendedores. Literalmente é não deixar o navio encalhar e navegar com sucesso ao seu destino. Certamente o Carrefour Brasil e a ação intraempreendedora de seus comandantes, é um caso exemplar disso.