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Agora é a hora da Pecuária Digital

“Nós temos como missão fazer o futuro da pecuária hoje”, essa frase dita pelo Prof. Mateus Mondin do Departamento de Genética da ESALQ-USP foi o marco final do Fórum Pecuária Brasil. Em um painel focado nas inovações tecnológicas, ficou claro que o setor já tem em mãos um arsenal de inovações para fazer uma verdadeira revolução na produção animal. E não é pouco dizer que ela vai de ponta a ponta nessa importante cadeia produtiva.

“Um dos segmentos mais fortes do agro brasileiro não pode continuar sendo visto como um vilão ambiental”, segundo Paulo Dancieri, CEO da BovExo. “É importantíssimo destacar que a grande parte dos pecuaristas tem um saldo extremamente positivo sobre a sustentabilidade, mas não têm conhecimento sobre isso e nem usam isso como uma ferramenta a seu favor”, explica Paulo. As tecnologias que já estão prontas para a pecuária, serão decisivas para um posicionamento global brasileiro e trarão uma forte agregação de valor pela qualidade ambiental dos produtos ofertados.

Segundo Prof. Mondin, “o país não pode aceitar que produtores profissionais e conscientes sejam colocados no mesmo grupo de criminosos que avançam sobre as nossas florestas e com isso prejudicam uma cadeia inteira, afetando a economia geral e ameaçando o emprego de milhares de pessoas. Além disso, o país tem um aparato jurídico moderno que garante a punição daqueles que agem contra a lei e é muito importante sempre enfatizarmos isso, dentro e fora do país”, destaca o professor.

Neste caminho, “há marcos importantes em avanços tecnológicos, como uma nova forma de monitoramento da saúde animal e o emprego de uma nova geração de fármacos, que prometem reduzir drasticamente o uso destes insumos na produção”, esse é o posicionamento de Giankleber Diniz, CEO da Ceva Sante Animale. Para garantir esse avanço na qualidade sanitária dos animais, a empresa está se aproximando de inúmeras startups. Sem dúvida alguma essa é uma iniciativa fundamental para o avanço e a transferência das tecnologias, uma vez que muitas vezes as startups não conseguem acessar canais de vendas que possam alavancar de fato suas soluções. Em uma rápida revisão no banco de dados da Startagro, fica evidente que a maior parte das startups querem ter esse tipo de parceria. E essa é uma via de mão dupla, pois as grandes empresas também enxergam essa relação como importante para o avanço dos negócios e a oferta de pacotes de soluções tecnológicas. Segundo o Prof. Mondin, “é necessário avançarmos mais rápidos nessas parcerias, para que o maior beneficiário, que é o produtor, seja prontamente atendido. É um verdadeiro ciclo de ganha-ganha”, reforça o professor.

“Por outro lado, para que essas soluções cheguem até o produtor, é necessário garantir que ele esteja alavancado financeiramente, com recursos que sejam acessíveis e compatíveis com seu dia a dia”, na opinião de Carlos Pimenta Júnior, CEO do @Bank. “A maior parte das linhas de créditos não favorece efetivamente ao pecuarista, que fica a mercê de agentes financiadores que não compreendem o dia a dia da produção animal e nem falam a língua dos produtores”, detalha o Pimenta. Para o CEO do @Bank a estratificação da produção também perderá o sentido com o avanço das tecnologias. “Possivelmente o sistema, cria, recria e engorda, deve desaparecer com o tempo”, afirma Pimenta. Para isso, soluções de crédito digital, antecipação de recebíveis, oferta de fundos específicos para investimentos e outros mecanismos monetários são chaves para o sucesso da pecuária. Parte destes produtos já estão disponíveis pelo @Bank e em breve outros entrarão no portfólio. “Tudo isso acessado via aplicativo que fica na mão do produtor em seu celular e que ele pode acessar em tempo real e de qualquer lugar do mundo”, garante Pimenta.

A garantia de uma tomada de decisão financeira pode ser obtida em soluções como a da BovExo. Paulo Dancieri fala explicitamente da importância de números, precisão e análise dentro da pecuária para as tomadas de decisão. “O desenvolvimento de algoritmos específicos para indicares de performance e comparação de cenários, e consequentemente para a tomada de decisão, já são uma realidade. Além disso, essa tecnologia permite a rápida solução de problemas”, reforça Dancieri. Dentro da plataforma da BovExo essas tecnologias de análises já estão todas disponíveis.

Fica claro que não é uma questão de se desenvolver as soluções, elas já foram criadas. O trabalho maior é a adesão dos produtores a esse novo mundo. Dancieri aponta a neofobia como um dos agentes chaves para esse atraso na incorporação de novas tecnologias pelo pecuarista. A neofobia é o medo do novo, do desconhecido, de entrar em algo ou comprar algo do qual não se tem domínio. Porém para os quatro debatedores, não há motivos para esse medo. Basta olhar o que aconteceu na agricultura e de como essas soluções digitais passaram a ser parte do sistema produtivo em um curto espaço de tempo. Isso se deve principalmente ao retorno sólido em termos de lucratividade que a adoção tecnológica traz. Aparentemente existem ainda dúvidas e medos por parte dos produtores de que isso de fato vai acontecer.

Entretanto, uma das tecnologias que fecham esse sistema e garantem que esse retorno ocorrerá, vem exatamente do monitoramento do insumo chave da produção, o pasto. O Prof. Mondin apresenta exemplos claros que adoção de sistemas modernos de monitoramento e manejo de pastos, podem trazer resultados muito impressionantes. Em uma fazenda no interior do Maranhão, esse monitoramento e adoção de parte das recomendações de manejo dos pastos representaram crescimentos da ordem de 200% ou mais no número de unidades animais por hectare. O monitoramento de pastagens é uma atividade complexa devido as extensões destas áreas. Inúmeras soluções já foram apresentadas, mas certamente uma das que realmente são vantajosas e acessíveis, são àquelas automatizadas e com uso de inteligência artificial. O destaque nessa área vai para a SciCrop com o sistema Pastto Cattle Analystics. Segundo o Prof. Mondin dentro deste sistema é possível verificar a oferta de biomassa, a carga animal otimizada, a capacidade de suporte e UA para as estações de seca e águas, sendo todo esse processo específico para cada um dos tipos de pastagens plantadas no país e a genética do animal que vai sobre ela. Tudo isso monitorado ao longo do tempo e em tempo real, permitindo se fazer previsões através de um algoritmo de IA que faz comparação ano a ano. O sistema ainda integra todos os dados climáticos em tempo real.

“O seu boi será aquilo que ele come”, reforça o professor. Para Giankleber, Dancieri e Pimenta, esse tipo de sistema pode intensificar a produção animal de forma significativa e aumentar o valor agregado ambiental da pecuária.

A conclusão unanime dos painelistas é que não há uma solução isolada, mas é sim necessária a integração das tecnologias, desde a operação agrícola para a produção de pastagens em um sistema como da SciCrop, passando pela gestão da saúde animal com inovações oferecidas pela CEVA, chegando na tomada de decisão dentro da BovExo e fechando com os lucros otimizados pelo @Bank.

Essa ação conjunta e sistêmica fará com que a pecuária atinja um novo patamar em termos de qualidade com produtividade. A agregação de valor, a otimização da operação e a valorização da sustentabilidade, garantirá o acesso a novos mercados.