Agroinovação no Festival Path: Você é o que você come, e cada vez mais pessoas percebem isso
Por que a atenção com a comida é o grande símbolo da transformação no comportamento das pessoas e como a tecnologia pode contribuir com a sustentabilidade
Por Clayton Melo
clayton@startagro.agr.br
Todos os anos aprendo e me divirto muito no Festival Path, evento de inovação e criatividade com o qual colaboro há alguns anos, como curador e parceiro. E, principalmente, participar dessa festa da economia criativa me permite ver melhor que existe um número crescente de gente inquieta.
São corações e mentes dispostos a pensar, mudar, inspirar, provocar e sair da zona de conforto. Gente que quer fazer a diferença no ambiente em que vive e, assim, contribuir para um mundo melhor.
Transformações na sociedade
A edição 2017 do Festival Path mostrou claramente a força da revolução em curso. Uma revolução que tem a ver com diversidade, questões de gênero, consumo, vida nas cidades, conhecimento, conectividade, sustentabilidade e…comida.
A alimentação talvez seja o grande símbolo da transformação no comportamento das pessoas – dentro e fora do Brasil -, pois é algo vital para o ser humano e provoca impactos em toda a sociedade. A comida está conectada a tudo, da saúde à cultura, passando por economia, estilo de vida, bem-estar, trabalho e tecnologia.
Novo consumidor, novos hábitos
O que o Path catalisa é algo já visível no dia a dia. Cada vez mais pessoas se preocupam com o que comem. São pessoas que querem saber de onde vem o alimento adquirido no supermercado ou na feira e como a verdura e os legumes chegaram às suas mesas.
O comportamento desse novo consumidor já provoca mudanças na indústria de alimentos. O que talvez muitos não saibam é o quanto a tecnologia está envolvida em todo esse processo e como ela pode contribuir com a sustentabilidade, com o aumento de produtividade e com oportunidades para jovens empreendedores, inclusive os da economia criativa.
Agricultura para uma economia criativa
Foi pensando em todas essas coisas que preparamos os paineis de agroinovação na edição 2017do Festival Path. Os debates, acredito, podem ter ajudado a quem não está envolvido diretamente com o agronegócio a entender melhor o movimento de transformação digital no campo, algo que a StartAgro, como apoiadora do Path, aborda sempre neste espaço e em eventos.
Procuramos mostrar no Path a relação da tecnologia com o prato de comida de todos nós. A inovação está presente no processo de produção na agricultura há muito tempo, como mostra, por exemplo, o trabalho desenvolvido pela Embrapa há décadas no Brasil.
Agora, a novidade é que o digital está democratizando a tecnologia para médios e pequenos produtores, que hoje podem acompanhar a situação de suas fazendas por meio de aplicativos para celular.
Orgânicos e empreendedorismo
Um dos paineis discutiu o setor de alimentos orgânicos. O papo passou por startups, relação entre produtores e varejo, preço do alimento e fazendas urbanas. A intenção era debater quais as barreiras para essa atividade ganhar escala nas cidades e chegar a mais pessoas.
O debate contou com a participação da jornalista Denize Bacoccina, como moderadora; Talita Campoi Marinho, cofundadora da Urban Farmers, Alessandro Duarte, sócio da Casa Orgânica; Rafi Boudjikian, sócio do Site dos Orgânicos e da Orgânicos 35; e Eduardo Zanoni, produtor de orgânicos, membro do conselho do Sítio Escola Portão Grande e fundador da UNA Orgânicos.
Um aspecto abordado na conversa são as oportunidades abertas a novos empreendedores por conta do aumento do consumo de orgânicos.
Alessandro Duarte, por exemplo, é arquiteto e urbanista. Com a crise do mercado de construção civil, começou a buscar outros caminhos. Como ele e a mulher, Naíla, já consumiam orgânicos, influenciados pela preocupação com alimentação dos filhos, passaram a considerar a hipótese de abrir um comércio nesse setor. “Fui então pesquisar, fiz cursos no Sebrae e me preparei para empreender na área”, contou com Alessandro. Assim nasceu o supermercado Casa Orgânica, em abril, na Vila Madalena.
Startups e apoio dos cabelos brancos
O empreendedorismo também discutido do painel sobre startups AgTech, que contou com a participação de Almir Araújo Silva, gerente de marketing digital para a América Latina da Basf; José Augusto Tomé, sócio da AgTech Garage; e Raphael Pizzi, sócio da startup Agrosmart. São três protagonistas da cena empreendedora na agricultura.
Um dos momentos mais interessantes da conversa foi quando Raphael, um empreendedor de 27 anos, contou que, no início da operação de Agrosmart, uma das maiores dificuldades era convencer os produtores a contratar a empresa.
Afinal, trata-se de um serviço inovador para o agro – um aplicativo que monitora as fazendas e pode ajudar na economia de água usada na irrigação – e oferecido por jovens. A questão cultural era, portanto, um desafio a ser superado.
“Notamos que ter alguém de cabelo branco no departamento comercial ajudaria bastante”, disse Raphael. Foi então que contrataram um profissional bem mais experiente, o que ajudou nas conversas com os produtores. Deu certo. A Agrosmart é hoje uma das principais AgTechs do País.
A revolução biológica do insetos
Outro painel mostrou como os insetos estão revolucionando o campo e tornando a agricultura mais limpa. Participaram da conversa Bettina Barros, jornalista do Valor Econômico; Marcelo Poletti, sócio da Promip; Alexandre De Sene Pinto, sócio da Bug Agentes Biológicos; e Mateus Mondin, professor da Esalq.
O Brasil tem se destacado no campo dos agentes biológicos – vespinhas que combatem pragas -, substituindo assim o uso de produtos químicos nas lavouras.
A Promip e a Bug Agentes Biológicos são duas empresas paulistas que brilham nesse setor, que exige pesquisas sofisticadas e um alto grau de inovação – a Bug, por exemplo, colocou duas mosquinhas em uma nova missão: comer lixo orgânico e servir de insumo para ração de cães e gatos.
“Há muita tecnologia e inovação envolvida em diversas áreas na agricultura”, disse Mateus Mondin, professor da Esalq, de Piracicaba, uma das principais universidades de ciências agrárias do País.
Foi gratificante ver a sala cheia e a participação ativa da plateia, com perguntas e observações.
Internet das Coisas nas fazendas
A digitalização da agricultura vem atraindo também as grandes companhias de tecnologia. O assunto embalou o painel “A era dos robôs fazendeiros chegou: Como a Inteligência Artificial, a Internet das Coisas e o Big Data vão ajudar a produzir alimentos em larga escala”.
Com a sala lotada e bastante participação da plateia, o debate contou com Ulisses Mello, diretor do Laboratório de Pesquisas da IBM Brasil; Luiz Fernando Sá, Diretor da StartAgro; Thiago Bohn, gerente de desenvolvimento da SAP; e Omarson Costa, diretor de desenvolvimento de Negócios da Netflix para a América Latina.
“As projeções indicam que o planeta vai ter um salto populacional enorme até 2070. Como alimentar todo mundo? A tecnologia é o caminho”, analisou Costa. Estudioso da inovação, ele começou o bate-papo com uma brincadeira: “Aviso que não vim aqui para falar de House of Cards”.
Mesmo sabendo que o Path não é uma série da Netflix, é bom ver que, a cada capítulo, esse festival cresce, amadurece e amplia seus horizontes.
Que venham as novas temporadas do Festival Path!