Food Tech / Impacto Social /


Conheça a Feitosa, foodtech que venceu um prêmio internacional de economia circular

Empresa brasileira desenvolve um ketchup de banana que captou a atenção dos jurados do Thought For Food

A foodtech Feitosa, do Rio Grande do Sul, foi a vencedora na categoria Economia Circular em Alimentos do desafio de inovação proposto pela Thought For Food (TFF) em parceria com a Food Accelerator At Google (FLAG). E a proposta da empresa é aparentemente simples: oferecer um ketchup de banana a partir de frutas que seriam descartadas pelos produtores porque elas não estão de acordo com os padrões normalmente exigidos por mercados e pelos próprios consumidores.

A ideia surgiu de Fabrício Goulart, chef que trabalhou em restaurantes em Vancouver, no Canadá. Foi lá que percebeu como os canadenses valorizavam seus produtos locais. “Com toda a abundância que existe no Brasil, vemos que apenas algumas coisas recebem mais atenção”, diz Fabrício ao StartAgro. Quando retornou, decidiu criar algo inovador. “Voltei em 2014, no auge da onda do hambúrguer. Decidi investir em algo inovador e fui para a área de molhos. Queria usar frutas em pratos salgados, e cheguei na banana, uma fruta muito desperdiçada, que tem muito açúcar quando está madura”. Fez os testes em casa e chegou em uma receita de ketchup de banana, com sabor muito semelhante ao tradicional, feito de tomates. 

Decidiu levar sua ideia adiante e se inscreveu na primeira edição do programa Shark Tank, em busca de um financiamento para produzir seus molhos em escala industrial. “Os jurados viram a ideia como inovadora, mas questionaram se o mercado tinha essa necessidade. Não recebi o investimento, mas saí de lá decidido a dar um propósito maior ao produto”, afirma o chef e empreendedor. 

Fabrício se aproximou de uma cooperativa de bananicultores do Rio Grande do Sul, responsáveis por fazer um manejo agroecológico em plantações. “Passei a comprar as bananas fora do padrão, que representam de 40% a 60% de toda a produção deles”. Foi o primeiro passo para diminuir o desperdício e gerar lucro para os produtores. “Não foi um impacto absurdo no desperdício, mas gerou uma ideia de circularidade”, conta. Com as bananas, faz ketchup, barbecue, geléia e molho de pimenta. Sobravam as cascas. “Desenvolvi uma ‘bananata’, uma caponata que é saborizada. A foodtech passou a trabalhar com os bananicultores para melhorar o manejo e passou a aproveitar todo tipo de sobra das bananas. Além dos molhos, a linha de produtos conta com uma cerveja feita com a banana passa e snacks. Em breve, terão um tipo de melaço feito com a fruta. As embalagens são recicláveis, feitas de vidro, e a produção é escoada a partir de uma fábrica parceira em São Paulo.

Leia mais:
Conheça as foodtechs inovadoras selecionadas pelo Desafio Visionários
Habitat Floema, novo hub de inovação do RS, busca agtechs e foodtechs
Conheça a DuLocal, startup que quer mudar o sistema alimentar do mundo

A foodtech se inscreveu em alguns programas de aceleração no Brasil. “Mas eles não estão tão fortes quanto outros de fora. Conceitos como upcycling, economia circular e sustentabilidade são bastante sólidos lá fora, mas desconhecidos por aqui”, diz Fabrício. Por isso, decidiu se inscrever no desafio do TFF. Reuniu uma equipe para fortalecer seu conceito e se lançou na ideia de fazer parte do movimento que vai usar propostas inovadoras para garantir o alimento da população em 2050. Foi uma das vencedoras entre mais de cinco mil inscritas. “Já levei muita porta na cara. Quando você recebe uma notícia dessas, do reconhecimento de uma ideia e de um conceito, é uma emoção muito grande”, conta. O prêmio inclui três meses de incubação na MISTA, uma plataforma de inovação de São Francisco, além de mentorias com grandes executivos e participação em encontros do TFF em Kuala Lumpur, na Malásia.

Por aqui, no entanto, a produção está parada por conta da pandemia provocada pelo novo coronavírus. Fabrício continua comprando um parcela da produção de bananas, que são doadas à população mais vulnerável. “Nesse momento, entendemos que é melhor ficarmos mais quietos”, diz. Mas a Feitosa tem planos para 2021. “Acho que será o ano em o mercado internacional vai olhar para o Brasil como celeiro de foodtechs. E espero que nós, como Feitosa, consigamos nos envolver em projetos fora do país. Replicar e ganhar escalabilidade. Queremos crescer no Brasil e tomar proporções internacionais”.

De acordo com Fabrício, o modelo adotado pela empresa é facilmente replicado localmente. Para falar sobre esse modelo e a economia circular de alimentos ele participa da live Bytes à Mesa, oferecendo ideias e até uma receita no final. A transmissão será feita pelo canal no YouTube do Pulse, hub de inovação da Raízen, na quinta-feira, dia 7 de maio, às 11h.