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Da ciência da computação a um agro multidisciplinar

Existe hoje no mercado brasileiro uma grande lacuna de desenvolvedores e engenheiros de software, nos conta Pedro Dusso, CEO da startup Aegro. Além disso, a formação mais conservadora em Ciências da Computação é repleta de abstração, matemática e teoria, o que em parte ajuda a entender e construir soluções buscando sempre o ótimo, o ortogonal e o canônico, porém pode limitar os profissionais de uma visão mais holística de sua potenciais aplicações.

O software de gestão agrícola da Aegro surgiu justamente desta visão mais ampla da Ciência da Computação, oferecida pelo curso de graduação da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). A essência do curso é a de desconstruir algo e a reconstruí-lo de maneira correta, no sentido de que cada parte dentro de um todo está ali por algum motivo. A ciência da computação é realmente uma ciência muito bonita, e o computador está para ela assim como o telescópio está para o astrônomo ou o tubo de ensaio para o químico – apenas ferramentas para entender o universo – ressalta Pedro.

É simplesmente impossível colocar em palavras o que significa ser exposto 24h por dia, por meses, a uma cultura diferente, o quanto o teu cérebro precisa buscar se adaptar para te ajudar a sobreviver naquele novo mundo

Quando indagado sobre suas experiências pessoais que teriam o conduzido até o cargo de CEO, Pedro cita que durante a graduação teve a chance de realizar um intercâmbio na Universidade Técnica de Kaiserslautern. Pedro resume a experiência assim: “É simplesmente impossível colocar em palavras o que significa ser exposto 24h por dia, por meses, a uma cultura diferente, o quanto o teu cérebro precisa buscar se adaptar para te ajudar a sobreviver naquele novo mundo”.

Ele ainda pontua como a fotografia e o esporte foram importantes para seu desenvolvimento como profissional: “[…] o olhar que a fotografia exigiu que eu desenvolvesse, é o mesmo olhar que eu tenho para os inúmeros produtos que construímos hoje – nada isolado faz sentido, tudo precisa de um contexto e de um enquadramento […] já na jornada para me tornar um triatleta autodidata, eu compreendi o que é disciplina para mim, e isso me ajudou muito no trabalho no começo da Aegro. Hoje eu tenho um treinador, e ter alguém mentorando meu dia a dia esportivo também me fez ser mais aberto na busca por mentores no ambiente de trabalho”.

Quando se imagina o CEO de uma startup de sucesso, é importante que se tenha em mente que não existe uma fórmula milagrosa, mas sim, muito trabalho e autoconhecimento. Para o Pedro “[…] a resposta perfeita para dizer como me tornei o CEO da Aegro, eu sou muito generalista, ao ponto que, se avaliado como um especialista, sou abaixo da média. Também tenho uma proatividade muito grande e tenho como mantra que é melhor pedir desculpas do que pedir com licença. Conectando um pouco os tópicos, acredito que meu treinamento teórico, de ver o mundo como sistemas complexos que interagem entre si, somado a uma visão de contexto supercrítica com a capacidade de lidar com modalidades distintas (nadar, pedalar e correr x marketing, engenharia e finanças) me ajudou a me tornar um diretor-executivo”.

Ainda é curioso notar que em um primeiro momento, os idealizadores deste empreendimento não tinham nenhuma formação específica voltada ao setor do agronegócio. Mas, segundo Pedro, ele e seus sócios estavam buscando trabalhar em algo da economia real. A brincadeira interna entre os sócios era de que não gostariam de ficar ricos fazendo joguinhos como o Angry Birds na época (2014).

Pedro nos conta de uma experiência marcante, que teve durante um passeio guiado por Berlin, quando o guia turístico falou: “Muito se conta a história de tantos e tantos alemães, austríacos, tchecos e outros que migraram ao longo da segunda grande guerra e foram expoentes no desenvolvimento de tantas ciências em outros países. Todavia, pouco se conta a história daqueles que ficaram. Muitos atribuem injustamente a permanência destes por falta de opção, sem ponderar aqueles que ficaram por propósito de reconstruir a terra deles. Aqueles que no dia depois da guerra tiveram que apertar a mão de quem estava até ontem do outro lado e começar a reconstruir.”

“[…] se não tínhamos conhecimento específico no setor, conseguiram cobrir a lacuna com uma fome de propósito imensa e um conhecimento teórico de desconstrução do complexo e reconstrução dele de maneira ortogonal”

Ele nos conta que estas palavras foram fundamentas para sua tomada de decisão em voltar ao Brasil e buscar algo que enriqueceria a nossa economia local, trabalhando diretamente com milhares de produtores rurais. Pedro destaca que: “[…] se não tínhamos conhecimento específico no setor, conseguiram cobrir a lacuna com uma fome de propósito imensa e um conhecimento teórico de desconstrução do complexo e reconstrução dele de maneira ortogonal. O Aegro é o sistema de gestão rural mais simples de usar, o que é diferente de simplista, porque nós precisamos entender a agricultura e todo processo agrícola parte por parte e, ao fazer isso, conseguimos colocar muita empatia para quem iria utilizar o software lá na ponta”.

O Aegro tem uma missão muito clara que é ultrapassar a próxima fronteira para o aumento dos níveis de produtividade, quebrar o limite digital, alcançado novas técnicas de manejo, brutalmente orientadas a dados e análises, permitindo a produção de mais alimentos com menos recursos e com mais qualidade. Tudo isso a partir do trabalho de profissionais que se desafiaram a utilizar uma ciência exata para lidar com um sistema complexo como o agro.

Pedro destaca “que é nesse contexto que o Aegro é um pioneiro no cenário de digitalização agrícola brasileiro. Nascido como uma ferramenta técnica de gestão e otimização do processo produtivo da cadeia orizícola, fruto de mais de três décadas de pesquisa do nosso cofundador e mestre em agronomia Valmir Menezes, o Aegro carrega um DNA agro mais inteligente, útil e, principalmente, acessível do que qualquer outra ferramenta”.

“pouco adianta a contabilidade perfeita de uma lavoura que não produz nada”

Ainda é uma preocupação do Aegro manter sempre em destaque que: “pouco adianta a contabilidade perfeita de uma lavoura que não produz nada. Sendo assim, o controle das finanças da fazenda pode ser fundamental para manter o negócio saudável e garantir que as eventuais quebras de safras sejam apenas um soluço dentro de uma visão de longo prazo. Contudo, o que realmente pode mudar o jogo desses produtores, e do mundo, é melhorar os processos produtivos”.

Com base nessa premissa, a plataforma da Aegro tem como foco um uso fácil, compras ágeis, de implementação descomplicada, multicultural e de alta portabilidade, o que pode ser resumido como simples. Ela foi toda pensada para tornar o Brasil o celeiro do mundo, instrumentando produtoras e produtores que serão os verdadeiros protagonistas dessa missão de alimentar o mundo, destaca Pedro.

Quando indagado sobre se sentir ou não realizado ao olhar para as conquistas que obteve com o Aegro, Pedro relata: “Dizer que eu me sinto realizado é pouco; ver o Aegro crescer e prosperar, gerando valor diretamente para nossos clientes e indiretamente para toda cadeia do agronegócio é um sonho se tornando realidade. Sou grato por todos meus colegas e colaboradores da Aegro que hoje compartilham da missão de ajudar a agricultura a evoluir. Eu acredito que lá atrás, eu não saberia descrever concretamente o hoje, mas sim, eu esperava essa jornada. Jornada que está apenas no começo, certamente, ainda temos muito, muito trabalho pela frente e muitos anos me divertindo, aprendendo e entregando valor para todos os agricultores do Brasil”.