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Davi contra Golias, quando a ciência vence o gigante

Há bem pouco tempo, em uma matéria intitulada Soluções biológicas e o futuro da tecnologia na agricultura, escrita pelo Professor Mateus Mondin do Departamento de Genética da ESALQ-USP, era apontada as principais tendências científicas para o setor. Dentre as revoluções que viriam o professor profetizou “Ela se dará pela competência humana de dominar organismos vivos”. Foi conta dessa afirmação e sua assertividade, que o professor foi convidado pela equipe da Agrivalle para conhecer hoje, o que ele imaginava ser o futuro da agricultura, atesta Edsmar Carvalho Resende, co-fundador da Tarpon – 10b e membro do Conselho da Agrivalle, sob uma risada muito gostosa de satisfação. E não é para menos, a Agrivalle acaba de entrar no mercado com um novo conceito de produto biológico para proteção de cultivos.

O Twixx-A é uma composição de microrganismos de controle de doenças foliares que demonstra resultados de incrementos médios de produtividade sobre multissítios químicos e tudo comprovado experimentalmente.

Eduardo Bernardo, fundador e diretor de pesquisa e desenvolvimento da Agrivalle
Eduardo Bueno

A Agrivalle é sem dúvida nenhuma o maior case de Ag-Biotechnology do Brasil. A startup recebeu a cerca de um ano o maior investimento em agtech já registrado no país. O aporte inicial foi de 160 milhões de Reais, feitos pela Tarpon – 10b. E a escolha não foi por acaso. Após um longo roadmap pelo Brasil, analisando diversas startups e visitas à pesquisadores, que incluiu uma passagem pelo laboratório liderado pelo Professor Mateus Mondin, é que a equipe envolvida chegou a seu veredito.

Foi realmente uma tarde muito agradável na ESALQ, quando tivemos a chance de conversar sobre muitas coisas de tecnologia aplicada ao agro. De fato eles não disseram qual era o plano, mas ficou claro que estavam buscando nos especialistas uma direção.

Mateus Mondin

Marcelo Lima, Co-fundador da SK Tarpon e 10b, destacou o que chamou a atenção da equipe para a Agrivalle – “Vimos que era uma companhia sólida com foco em pesquisa e desenvolvimento, além de uma cultura forte e centrada na satisfação do produtor”. E de fato, a empresa conta com nove dos 32 organismos registrados no Brasil e somam mais de 10 patentes depositadas, sendo que há várias outras a caminho.

A Startagro que acompanhou a visita, também teve a oportunidade de assistir um bate-papo de altíssimo nível entre Eduardo e Mateus. Os dois falaram com muito entusiasmo sobre as perspectivas futuras, soluções biológicas, aplicação de biotecnologia e a nova revolução verde. E não é para menos a afinidade dos dois, a trajetória de Eduardo é de um legítimo pesquisador. O currículo do empreendedor é impecável, com Ph.D. e Mestrado com distinção e louvor pela UNESP-Botucatu e graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal do Mato Grosso. E nesse último aspecto ambos descobriram uma feliz coincidência, Eduardo foi aluno de Mauro Mondin, professor aposentado da UFMT e tio de Mateus. “É por isso que eu faço tudo certinho, o mundo é pequeno demais” brincou o professor.

Eduardo testemunhou que tinha uma visão clara sobre essa revolução biológica e por isso veio trazendo com ele ao longo dos anos as suas cepas originais dos primeiros organismos isolados. Elas estão guardadas com muito carinho em um banco com mais de 700 microrganismos com potencial agronômico e outros fins; que ele veio isolando e testando ao longo dos anos.

“O que me impressiona é a fidelidade do Eduardo com sua formação científica. Ela nunca deixou de ser cientista e pelo que estou vendo ele irá ainda mais longe” declara o professor.

Ambos são unânimes sobre uma péssima máxima da ciência brasileira, a separação entre básico e aplicado. “É claro que há demandas dentro de uma empresa e no mercado, mas isso não quer dizer que algo novo não será aplicado” diz Eduardo. “Esse é um câncer que precisa ser vencido no Brasil, claro que temos que atender demandas, mas ir para a fronteira do conhecimento é imprescindível para nos tornarmos exportadores de tecnologia”  completa Mateus.

E esse espírito não mudou na Agrivalle, pelo contrário somos fiéis a ele e continuará sendo a essência da nossa empresa. Produzir pesquisa e desenvolvimento biotecnológico é a alma do nosso negócio.

Ahmed Kleit responsável por Novos Negócios e Inovação Digital na Agrivalle
Edsmar, Mateus e Ahmed

E ele não está brincando, os olhos saltam ao entrarmos em um espaço de mais de 1200 metros quadrados de laboratórios de primeiro mundo. Em uma sala nos é apresentado uma “esteira de pesquisa”,  coordenada por uma equipe de jovens e entusiasmados cientistas, que nos mostram que eles estão construindo. O brainstorm é cativante com muitos desenhos em uma lousa super moderna e mal conseguimos acompanhar as ideias que brotam na cabeça dos cientistas.

É muito privilégio presenciar esse bate-papo”, “Parece que estamos presenciando o futuro acontecendo hoje” confessam Edsmar e Ahmed.

Mas e o Davi e Golias, onde entram nessa história?

No entusiasmo de acompanhar a prazerosa conversa enquanto percorríamos a Agrivalle, quase nos esquecemos dessa parte.

De fato a nova revolução na agricultura vem de quem sabe dominar os organismos vivos. Isso só é possível com muito conhecimento científico. O que vimos dentro da startup foi um ambiente permeado por ciência de alto nível de todos os lados. Fosse nos laboratórios, fosse na linha de produção, tudo é pensado cientificamente.

Questionado sobre o produto apresentado, o professor Mateus Mondin diz “é inquestionável do ponto de vista científico os números que vimos aqui. Tudo foi feito com muito rigor e imparcialidade. A única coisa que posso dizer é que sim; do que vi, eles superaram o uso de moléculas químicas pelo domínio que têm sobre combinar e balancear os diferentes microrganismos”.

Essa história de fato nos lembra a de Davi contra Golias, contada no livro bíblico de I Samuel no capítulo 17, quando o franzino Davi derrota Golias, o gigante filisteu, com uma atiradeira e uma pedra e se torna o maior rei daquele povo.

Não parece exagero imaginar que pequenos microrganismos em pequenas startups, como a Agrivalle, possam derrubar gigantes de insumos no mundo. Sim, ainda que com o aporte polpudo da Tarpon – 10b, a Agrivalle ainda é franzina frente aos orçamentos despendidos com pesquisa e desenvolvimento para busca de novas moléculas químicas e fertilizantes nas grandes corporações.

“Uma das coisas que mais me alegra é quando vejo que errei uma predição. No meu artigo sobre soluções biológicas eu dizia que talvez não conseguíssemos substituir 100% essa dependência, mas me parece que estou errado; pelo menos em alguns segmentos do manejo agrícola” confessa Mateus Mondin com nítido entusiasmo. “Meu trabalho como acadêmico é quebrar e criar novos paradigmas e vejo que um dos meus foi quebrado hoje. Isso é maravilhoso, pois assim a ciência avança” completa o professor.

Me lembrei do professor, do artigo dele e das excelentes conversas que tivemos ao longo destes últimos anos. Não pensei duas vezes em chamá-lo para nos visitar e mostrar algumas coisinhas interessantes para ele.

Edsmar Carvalho Resende

Ao que tudo indica a Agrivalle parece estar se tornando o Davi das agtechs brasileiras. Começou pequena, com ninguém dando muita credibilidade a ela, foi crescendo em força e sabedoria, científica e empreendedora no caso; e se continuar essa trajetória de crescimento com certeza será a referência para muitas outras que brotam no nosso ecossistema de inovação e tecnologia do agro.