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Hops Brasil é um brinde à biotecnologia e ao melhoramento genético do lúpulo

Startup brasileira é a primeira a desenvolver variedades de lúpulo adaptadas à região tropical e revolucionará o mercado cervejeiro

A cerveja no Brasil e no mundo

O mercado mundial de cervejas é impressionante e hoje movimenta cerca de US$ 680 bilhões de dólares por ano. O Brasil é o terceiro maior consumidor de cervejas no mundo, com um mercado que alcança a marca de US$ 15 bilhões de dólares ano. Para se ter uma ideia da potência desse mercado, no país há mais de 42 mil produtos registrados e cerca de 54 mil marcas de cervejas, sendo que apenas em 2021, houve um acréscimo de mais de 7 mil produtos ou algo em torno de 20% de acordo com matéria publicada pelo MAPA sobre o Anuário da Cerveja.

Geograficamente o estado de Santa Catarina é o que possui o maior número de cervejarias per capta, com cerca de 1 cervejaria para 34 mil habitantes. Em São Paulo esse número é de 1 cervejaria a cada 120 mil habitantes.  Naturalmente o estado de São Paulo como o mais populoso do país, detém o maior número de marcas no registro de cervejas com cerca de 16 mil e os produtos registrados alcançam a marca de 12 mil. Apenas na cidade de São Paulo há registros para 1817 cervejas.

Esses são números que realmente impressionam e tornam o setor muito atraente para investimentos, mas não para por aí. Embora o anuário tenha apontado uma pequena queda nas exportações brasileiras em 2022, o país levou para o mundo 200 mil toneladas de cerveja, trazendo um faturamento de mais de US$ 120 milhões de dólares. Por outro lado, o Brasil também é um grande importador de cervejas, sendo suprido por cerca de 21 países e tendo como maior destaque a Bélgica que detém 34% de todas as importações brasileiras e em 2022 teve como faturamento US$ 4,5 milhões de dólares. Devido ao forte crescimento do mercado cervejeiro brasileiro em termos de produção, essas importações estão caindo consideravelmente. Para se ter alguns números, em 2021 foram importados 18,4 mil toneladas de cerveja e em 2022 foram apenas 14,9 mil toneladas, o que representa uma redução de 19%, demonstrando que o país está se tornando um efetivo produtor. Todas essas informações podem ser encontradas em detalhes na matéria publicada pelo site oficial do MAPA e no Anuário da Cerveja.

A dependência de lúpulo como matéria-prima para o mercado cervejeiro nacional

Apesar da franca expansão das cervejarias artesanais e microcervejarias que impulsionam fortemente esse mercado, o Brasil é ainda fortemente dependente de matéria-prima para a fabricação da bebida. De acordo com matéria publicada na Folha de São Paulo, o país produz apenas 1% de todo o lúpulo que consome. Os números sobre a demanda de lúpulo pela industria cervejeira nacional podem variar de 3600 a 4300 toneladas.

Até recentemente não havia produção de lúpulo no país, embora algumas histórias apontem o cultivo da planta no país durante o século XIX. Atualmente, a Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo (Aprolúpulo) estima que em 2020 haviam 42 hectares plantados, produzindo algo em torno de 24 toneladas, o que representava em termos de área plantada um crescimento de 110% em relação a 2019. Essa produção marginal foi impulsionada pela necessidade de alternativas à importação, de acordo com matéria publicada pelo Jornal da USP. E existem projeções de que a área plantada possa chegar até a 180 hectares, segundo a matéria da Folha de São Paulo. O mercado de lúpulo é tão novo que a própria entidade APROLÚPULO surgiu apenas em 2018 para fazer a conexão entre os diferentes pontos da cadeia produtiva.

Nesse contexto, algumas pressões foram estabelecidas sobre a produção do lúpulo, sendo a primeira – a devida regularização do cultivo e produção no país, depois – o desenvolvimento de variedades adaptadas ao clima tropical e por último – o vertiginoso crescimento das cervejarias brasileiras, exigem a construção de um terroir exclusivamente nacional, que gere uma diferenciação e uma identidade ao produto brasileiro, tal como ocorre tradicionalmente no mercado de vinhos de alto padrão.

Hops Brasil a startup que transformará o mercado cervejeiro brasileiro

De forma visionária e muito antes de todo esse cenário cervejeiro, o encontro de dois empreendedores deram início a um grande negócio que antevia toda essa demanda. O dentista Ricardo Beolchi, formado pela USP, também cuidava de uma propriedade da família para produção de seringueira, mas tinha uma paixão pelo lúpulo. Já, Max Raffaele, um engenheiro civil e biólogo formando pela University of Florida, era técnico no cultivo de lúpulo e produtor a mais de 10 anos nos Estados Unidos e curiosamente cultivava o lúpulo em uma pequena propriedade dentro da própria capital paulista. Ricardo determinado pela sua paixão pelo lúpulo acabou conhecendo Max, que também buscava interessados pela cultura. Ambos acreditavam na expansão do lúpulo no Brasil e se juntaram. E deu certo e imediatamente começaram a trabalhar juntos. A primeira iniciativa dos dois foi a criação de um espaço no Facebook para a troca de informações em comunidade. Com o nome de Hops Brasil, o canal hoje conta com mais de 8300 integrantes. Não houve dúvidas e o próximo passo foi o lançamento da startup Hops Brasil ainda em 2015. Na sequência vieram os canais no Youtube, chamado de Hops World e o perfil no Instagram como Hops Brasil que possui mais de 3 mil seguidores.

A Hops Brasil nasceu com a meta de ser a primeira produtora de lúpulo no Brasil, porém já de início os empreendedores se depararam com um grande desafio, o de não haver viveiros de mudas legalizados no país. Também se depararam com um problema ainda maior, que era a falta de materiais que fossem tropicalizados, uma vez que a planta é de origem temperada e até recentemente, não se acreditava que ela pudesse se adaptar aos severos climas abaixo da linha do equador. Esse era o cenário adverso perfeito para quem quer empreender. Aproveitando-se da experiência de Max Raffaele, a Hops Brasil fez a importação e a legalização das variedades mais importantes de lúpulo depositadas no USDA e que eram livres de patentes. Dessa forma iniciaram o primeiro viveiro legalizado no país e começaram a venda de mudas com origem genética comprovada. Logo perceberam que precisariam ir além disso, e que a tropicalização representava uma oportunidade de negócios grandiosa, já que o mercado cervejeiro crescia rapidamente. O desenvolvimento de cultivares totalmente brasileiros seria uma demanda que logo surgiria no mercado, como alternativa à importação da matéria-prima e a redução dos custos. Assim a startup iniciou todo um programa de pesquisas científicas focada no melhoramento genético e na aplicação de biotecnologia para o desenvolvimento de variedades para o clima tropical.

Conhecendo o lúpulo

O lúpulo tem como nome científico Humulus lupulus L. e pertence a família botânica das Cannabaceae, que é a mesma da Cannabis sativa. Trata-se de uma planta trepadeira que pode atingir mais de 3 metros de altura e que tem como produto comercial as inflorescências femininas, conhecidas popularmente de cones. Os cones são processados para a formação dos pellets sendo esses o produto comercial. O lúpulo é a matéria-prima responsável pelas características aromáticas da bebida, sendo considerado o mais nobre entre os quatro ingredientes da cerveja.

O melhoramento genético e a biotecnologia da Hops Brasil

O programa de melhoramento genético da Hops Brasil conta com as mais sofisticadas metodologias de análises fenotípicas, que inclui a caracterização bioquímica dos cones que determinará todo o perfil organoléptico e do uso de ferramentas de genética molecular como o sequenciamento dos genomas por GBS para o desenvolvimento de marcadores genéticos. Tudo para que o Brasil possa se posicionar entre os maiores produtores de lúpulo do mundo e dar autonomia a demanda de mercado pela indústria cervejeira nacional. 

Ao longo dos últimos anos o programa de melhoramento genético da Hops Brasil já realizou mais de 10 mil cruzamentos de onde foram selecionados os primeiros híbridos adaptados ao clima tropical. São materiais genéticos únicos, com vigor e produtividade que não ficam devendo para nenhum material do exterior. Mais o mais importante é que a genética da Hops Brasil já desenvolve materiais mais resistentes as principais doenças. Existem grandes desafios com relação aos fungos patogênicos de solo. Esses fungos já são considerados chaves e críticos para a produção do lúpulo em clima temperado e no Brasil o desafio é ainda maior, pois devido as nossas condições climáticas, o controle é ainda mais difícil. A startup constatou que a susceptibilidade da cultura é tão grande que uma infestação pode causar perdas de até 80%. Por isso o desenvolvimento de variedades resistentes aos fungos de solo é alvo para a Hops Brasil, que não se esquece de paralelamente manter o programa de melhoramento para as qualidades organolépticas que poderão levar à terroirs exclusivos.

A biotecnologia também entra em ação na Hops Brasil e o foco no manejo sustentável da cultura também faz parte dos planos e já há testes em andamento para o desenvolvimento de biofungicidas com eficácia para esses fitopatógenos.

Todo esse alicerce de desenvolvimento do negócio, baseado em pesquisa, traz um diferencial muito grande para a Hops Brasil em relação a qualquer concorrente de mercado. A startup mantém o Registro Nacional de Cultivar para os materiais genéticos importados do USDA e é a única que possui um sistema de rastreabilidade da genética dos materiais, garantindo aos seus clientes a procedência dos seus materiais genéticos.

Com um programa de melhoramento genético moderno e com metodologias biotecnológicas de primeira linha, somada a uma equipe multidisciplinar com competência internacional, a Hops Brasil é um promissor case de AgBiotech. A Hops Brasil com certeza colocará o Brasil em lugar de destaque frente as grandes potencias produtoras de cervejas de alto padrão e qualidade, com o desenvolvimento de materiais genéticos verde e amarelo, cores que representarão tanto a qualidade dos seus produtos, quanto a sustentabilidade envolvida e seus compromissos com ESGs e pelas cores do amado país que farão uma marca na história da cerveja mundial.

Referências:

MAPA (2023) Anuário da Cerveja – Setor cervejeiro segue crescendo a cada ano, aponta anuário [link: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/setor-cervejeiro-segue-crescendo-a-cada-ano-aponta-anuario#]

Folha de São Paulo (2023) Luz artificial e plantação urbana são apostas para aumentar a produção de lúpulo Link: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2023/03/luz-artificial-e-plantacao-urbana-sao-apostas-para-aumentar-producao-de-lupulo.shtml]

Junior F., Stella R., Marchiori B. (2021) Essencial na fabricação de cerveja, lúpulo brasileiro é tão bom quanto o importado, mostram estudos da USP [link: https://jornal.usp.br/ciencias/essencial-na-producao-de-cerveja-lupulo-brasileiro-e-tao-bom-quanto-o-importado-mostram-estudos-da-usp/]

Editado por

Mateus Mondin

Professor Doutor

Departamento de Genética

Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ

Universidade de São Paulo

Editor Chefe da StartAgro