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O avanço do AgTech andino

Relatório publicado pelo Banco Interamericano de Desenvolvido BID aponta crescimento, sustentabilidade dos negócios e dá diretrizes para o sucesso de startups na região.

Na região dos Andes, encontramos um total de 90 empreendimentos de agfoodtechs e agfintechs, que estão oferecendo uma variedade de soluções e tecnologias agrícolas. Ao que tudo indica, os números não pararão por aqui e o crescimento de empresas oferendo soluções tecnológicas para a produção agrícola e de alimentos, continuará constante e sustentável pelos próximos anos. Todas as informações fazem parte de um relatório sobre o desenvolvimento agtech na região andina, publicado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). As startups oferecem serviços em diversos estágios da cadeia de valor, sendo a maioria localizada na Colômbia e no Peru. Porém países como Equador e Bolívia também aparecem como destaques, e apesar de toda a crise que enfrenta, a Venezuela aparece como destaque para a região. A região dos Andes na América do Sul é caracterizada por uma estrutura agrícola diversificada, que abrange tanto cultivos anuais e perenes, quanto pelas atividades de produção animal. Todas essas atividades desempenham um papel fundamental na geração de empregos e exportações, conforme evidenciado no estudo.

Consequentemente, as soluções agtech disponíveis na região são bastante variadas, atendendo às diversas demandas da cadeia agroalimentar local. As soluções oferecidas por essas startups têm como objetivo aprimorar a produtividade, reduzir o impacto ambiental e, em muitos casos, facilitar a integração dos agricultores em processos técnicos e comerciais mais avançados.

O maior destaque do relatório é uma análise de dez empresas, sendo oito delas na região andina, uma no Brasil e outra na Argentina. A partir do estudo desses casos, é possível observar um crescimento constante e um processo de consolidação desse tipo de negócio.

Em todos esses empreendimentos, é notável que são empresas relativamente jovens, muitas delas fundadas por empreendedores jovens altamente qualificados e a grande maioria tem menos de 10 anos de fundação. Um traço comum entre todas as equipes fundadoras é a presença de pelo menos um membro com experiência prévia no setor agrícola, como um engenheiro agrônomo, e pelo menos um membro com conhecimento técnico para liderar o desenvolvimento tecnológico, seja em termos de formação ou experiência na área de desenvolvimento de software e programação. Essa estrutura de sucesso já havia sido identificada anteriormente pelo Censo Agtech Startup Brasil de 2016 e 2018. Além disso, muitos desses empreendimentos estão atualmente em processo de consolidação, registrando um aumento significativo em sua receita e no número de usuários. Muitos deles estão até mesmo expandindo suas operações para outros países da América Latina.

A consolidação desses empreendimentos traz um grande potencial de transformação, com a promessa de oferecer benefícios substanciais em termos de competitividade, sustentabilidade e inclusão. No entanto, é importante destacar que esse potencial ainda não foi totalmente alcançado.

Um segmento essencial nesse contexto é o de serviços, cujos principais clientes são os próprios agricultores. Os casos analisados no estudo demonstram uma grande diversidade de propostas de valores, que se concentram tanto em tarefas específicas relacionadas à agricultura quanto na gestão global dos negócios agrícolas. Além das empresas que atendem diretamente os produtores agrícolas, também foram identificadas startups cujas plataformas digitais têm como usuários outros atores da cadeia, como fornecedores de insumos, instituições financeiras, companhias de seguros e participantes dos estágios de comercialização e industrialização.

Com base nessa análise o BID faz várias recomendações para promover ainda mais a inovação no setor. Isso inclui a promoção de programas de inovação por meio de iniciativas e organizações já estabelecidas em outros países. Sugere-se também que instituições locais na região dos Andes, tais como consórcios de produtores, cooperativas e universidades se envolvam ativamente para o desenvolvimento dos novos negócios.

A chegada de incubadoras e aceleradoras de startups à região dos Andes pode expandir ainda mais as oportunidades de financiamento, proporcionar capacitação aos empreendedores e ainda criar um ecossistema que permita a interação com investidores em escala global. Além disso, o BID recomenda a implementação de diversos instrumentos de política pública para facilitar o acesso a recursos externos nos estágios iniciais dos projetos, como financiamento para o desenvolvimento de protótipos. Outra sugestão importante é o estabelecimento de parcerias com organizações multilaterais para criar espaços de colaboração entre empreendedores e instituições de ciência e tecnologia, como universidades e instituições de pesquisa. Isso poderia promover o desenvolvimento de tecnologias emergentes. A criação de mais espaços de estímulo à inovação e ao empreendedorismo nas instituições de ensino, tanto no nível universitário quanto no secundário, também fazem parte das orientações do BID. Isso poderia ser alcançado por meio da organização de eventos e exposições, e nessas ocasiões seria fundamental a participação de empreendedores mais experientes compartilhando suas experiências. A intervenção pública também poderia incluir o estabelecimento de redes de contatos entre empreendedores e stakeholders do ecossistema agtech. É fundamental criar espaços para validar e analisar o impacto dos serviços prestados pelas empresas agtech, para isso é que se recorre às instituições de pesquisa, desenvolvimento e extensão na região, que devem passar por investimentos em infraestrutura e capacitação de suas equipes para desenvolver metodologias padronizadas de avaliação das tecnologias.

O BID destaca que a falta de infraestrutura digital não é o principal desafio enfrentado pelas agtechs. Embora todas enfrentem questões de acesso limitado à internet em áreas rurais, isso não é considerado um obstáculo central para o desenvolvimento ou aproveitamento de seus serviços. Na verdade, muitos empreendedores conseguiram desenvolver soluções que funcionam offline e sincronizam dados quando uma conexão à internet está disponível. No entanto, reconhecem que uma conexão de alta qualidade abriria portas para a inclusão de recursos adicionais em suas soluções.

A região dos Andes, com suas diversas paisagens e climas, tem uma longa história de agricultura e produção de alimentos. No entanto, à medida que a agricultura moderna continua a evoluir, a incorporação de tecnologia se tornou fundamental para aumentar a eficiência, melhorar a qualidade e reduzir o impacto ambiental das práticas agrícolas.

Em resumo, a região dos Andes tem um grande potencial para impulsionar o crescimento e o desenvolvimento das agfoodtechs e agfintechs. Com o apoio adequado, essas empresas podem desempenhar um papel fundamental na transformação da produção de alimentos, tornando-a mais produtiva, sustentável e inclusiva. O relatório do BID fornece um roteiro valioso para aproveitar esse potencial e promover a inovação da região. A colaboração entre empreendedores, instituições de pesquisa, investidores e o setor público é fundamental para o sucesso desse empreendimento. Com esforços coordenados, as startups podem desempenhar um papel crucial na construção de um futuro agrícola mais promissor para os países andinos.

Referências:

Bert F., Lachman J., Del Río J.A., Álvarez L.G. (2023) Desarrollo agtech en la región andina: casos de éxito y lecciones para el futuro. BID – Banco Interamericano de Desarrollo [https://publications.iadb.org/publications/spanish/viewer/Desarrollo-Agtech-en-la-Region-Andina-casos-de-exito-y-lecciones-para-el-futuro.pdf]

Mondin, M. et la. 2016) 1º Censo AgTech Startups Brasil. AgTech Garage e ESALQ-USP [https://www.startagro.agr.br/confira-o-infografico-completo-do-1o-censo-agtech-startups-brasil-em-primeira-mao/]

Mondin, M. et al. (2018) 2º Censo AgTech Startups Brasil. AgTech Garage e ESALQ-USP [https://www.agtechgarage.com/censo/]

Editado por

Mateus Mondin

Professor Doutor

Departamento de Genética

Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ

Universidade de São Paulo

Editor Chefe da StartAgro