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“O Brasil pode se tornar um exportador de tecnologia no agro”, diz Rodrigo Santos, presidente da Bayer

Desde que a Climate e sua ferramenta FieldView passaram a fazer parte da Bayer, a agricultura digital se tornou um dos pilares de atuação da companhia. A solução tem sido mostrada a agricultores do país inteiro em eventos que integraram um road show, e foi um dos destaques do estande que a empresa montou na Expodireto Cotrijal deste ano, em Não-Me-Toque, Rio Grande do Sul. Ao lado de variedades de milho e soja, uma estrutura interativa mostrava as vantagens da adoção da ferramenta e como ela pode ser usada para oferecer ganhos de produtividade. Nesse cenário, conversamos com Rodrigo Santos, presidente da divisão agrícola da Bayer para a América Latina, sobre agricultura digital, o potencial do Brasil como exportador de inovação e como algumas soluções ajudam a reduzir gargalos do setor. Confira a íntegra da conversa exclusiva com o StartAgro abaixo:

A agricultura digital é um dos pilares da Bayer. Como ela está inserida na estratégia global da empresa?

Acreditamos que a agricultura digital representa um novo grande avanço da agricultura em ganho de produtividade. Temos a plataforma da Climate, o FieldView, que é mais ampla. Temos, hoje, parceria com 60 startups do mundo. Na transformação digital, você tem um espectro de desenvolvimento absurdo. Nenhuma empresa vai ser capaz de desenvolver tudo que é possível. Trabalhamos com o conceito de plataforma aberta. Então, temos 60 startups, de drones a análise precisa de solo, participando dessa plataforma. Acreditamos muito em inteligência artificial, sensores que vão exponenciar muito o desenvolvimento no campo e vão permitir uma aplicação mais precisa, mais específica, no futuro. Temos ainda novos negócios, como é o caso da Orbia. Temos a capacidade de trazer para a agricultura essa transformação que já acontece em outros setores.

No caso das parcerias com a startup, o produtor contrata inicialmente o FieldView e a partir desses dados ele vai percebendo a necessidade de buscar outros serviços oferecidos pelas startups parceiras?

O que acontecia muito era o seguinte. O agricultor tinha o FieldView e conseguia informações precisas do plantio, da pulverização e da colheita. Mas ele queria adicionar uma imagem de drone, que não está no FieldView. O que aconteceu é que essa conexão com as startups permite que a empresa parceira gere as imagens e ele consiga ter acesso na mesma plataforma. Ele não precisa da complexidade de ter que gerenciar diversos tipos de ferramentas, uma de análise de solos, outra de drone, e por aí vai. Se eu puder fazer uma analogia, é como o iOS. Em um mesmo telefone, o agricultor tem acesso a diversos aplicativos. E ele vai dizer quais ele quer e quais não quer. Nossa intenção é ter essa plataforma. Nosso principal aplicativo é o FieldView, mas queremos dar a ele acesso a outros que a gente não vai ter condição de desenvolver. E, com isso, estamos dando oportunidades a para que startups brasileiras, por exemplo, levem soluções para agricultores americanos e vice-versa.

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Vocês são parceiros do AgTech Garage e estão envolvidos em projetos de fomento a startups do setor. Como essa relação com as agtechs faz parte da estratégia de agricultura digital da Bayer?

É assustadora a capacidade de inovação dessa área. Hoje, existem mais de 1200 agtechs no Brasil e é espetacular essa capacidade de inovar em um setor tão importante. Grandes empresas estão investindo no agro, como a IBM e a Microsoft. Vejo isso com excelentes olhos. Porque isso traz inovação, tecnologia e proximidade com o consumidor. Um fator muito interessante da agricultura digital é que ela aproxima o consumidor que vive nas cidades do produtor. É uma forma de se aproximar por meio da rastreabilidade, da informação. Há uma série de oportunidades nisso também que é mais um benefício dessa transformação.

O Brasil já é muito competitivo no agro. Você vê o País se tornando também um exportador de tecnologia nessa área?

Sim. O Brasil tem uma pujança muito grande e se desenvolve em várias áreas da agricultura. Hoje o País é um centro de referência em agricultura tropical e exporta conhecimento para a África, por exemplo. Quero acreditar que cada vez mais você pode ver inovações acontecendo aqui e sendo exportadas para a agricultura temperada do mundo. Eu vejo uma startup que surgiu em Piracicaba atuando amanhã nas grandes lavouras do mundo. É uma grande possibilidade. Temos que fomentar cada vez mais isso no País.

Você ainda enxerga gargalos na adoção da agricultura tropical?

Sim, eles ainda existem. Evidentemente está acontecendo em uma velocidade muito alta. A quantidade de agricultores e hectares que já adotaram a tecnologia é uma demonstração dessa velocidade. Mas você ainda em desafios. Conectividade no campo, por exemplo. E tem muito do conhecimento e da realidade do agricultor. É óbvio que a sucessão familiar hoje acaba acelerando esse processo. As novas gerações estão muito abertas a essa tecnologia. Ainda existem vários desafios, mas se você tiver que projetar para daqui cinco, dez anos, a nossa visão é que a adoção será exponencial.

O produtor ainda enfrenta dificuldades na hora de obter seguros e se proteger de elementos que não pode controlar, como o clima. De que maneira as soluções que vocês oferecem podem ajudar a mudar essa realidade?

Conversei recentemente com uma grande seguradora e eles me disseram que existe o risco moral, de não saber exatamente o que está acontecendo no campo. Por isso, todos os agricultores são tratados pela média. Existe uma grande oportunidade. Produtores que usam o FieldView podem compartilhar os dados com a seguradora. E ela, tendo acesso aos dados de produtividade dos últimos cinco anos, pode oferecer um seguro muito menor. Acontecerá uma customização do custo dos seguros com base nessa realidade. A agricultura digital tem mais esse elemento no que se refere a seguro, a comercialização de grãos, a rastreabilidade. Essa é uma oportunidade muito grande e necessária, especialmente no Brasil. Você vê aqui no Rio Grande do Sul como um ano como esse traz prejuízos para o agricultor. Não deveria mais ser assim. Lá fora não é assim.

O jornalista viajou a Não-Me-Toque a convite da Bayer.