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Plant Talks: Aurélio Pavinato, CEO da SLC Agrícola, conta como a tecnologia vai guiar o agro no Brasil

Por Luiz Fernando Sá

Há 27 anos o engenheiro agrônomo Aurélio Pavinato foi contratado como assessor técnico pela SLC, companhia focada no plantio de grãos em fazendas próprias e arrendadas no Rio Grande do Sul. Quase três décadas depois, ele ainda faz parte do quadro da empresa – e talvez apenas isso tenha permanecido como era no princípio desta história. O profissional passou a gerente de fazenda, diretor e, desde 2012, CEO da SLC, que evoluiu para um dos maiores grupos agrícolas do Brasil. Hoje, cultiva soja, milho e algodão em mais de 450 mil hectares em 16 propriedades, todas elas no cerrado brasileiro. Em território gaúcho ficaram a sede e os cérebros da empresa, uma das líderes no movimento de digitalização da agricultura nacional. Nesta entrevista, concedida no B-Hub, espaço de inovação e empreendedorismo da Faap, em São Paulo, ele conta como a tecnologia vai guiar os próximos anos da atividade no Brasil e no mundo. Confira os principais trechos aqui e, para ver a íntegra da entrevista em vídeo, acesse o site da revista PLANT.

O que já se pode colher da agricultura digital? Já é possível perceber um ganho significativo de eficiência e de rentabilidade nas operações? Estamos escalando agora nessa safra de uma forma significativa. Por exemplo, já há dez anos temos agricultura de precisão tradicional em um projeto grande de correção de solo com taxa variável de aplicação de fósforo, potássio e calcário. Agora, com a agricultura digital, escalamos toda a parte do manejo das culturas, manejo de pragas e de doenças. O sistema faz um levantamento de pragas na lavoura e no final da operação do dia ou do turno já sai um mapa de pressão de pragas na lavoura. E este ano nós estamos escalando a aplicação localizada. Qual é o ganho? Com esse mapa de pressão de pragas, você decide aplicar o defensivo agrícola somente onde tem a praga. Isso está gerando uma economia bem expressiva de defensivos agrícolas.

A precisão fica ainda mais precisa…
Exatamente. Na verdade, cada planta é um indivíduo, cada metro quadrado é um indivíduo dentro de uma população de plantas em uma lavoura.

Nós caminhamos para a individualização da agricultura como acontece na medicina?
Esse seria o objetivo final lá na frente, aplicar localizado significa aplicar naqueles indivíduos que estão doentes, que estão com a doença, que estão com a pressão da praga. Tem o sistema agora, o Weed-it, em que você aplica somente na planta-alvo. No ano passado a gente aplicou em 73 mil hectares e economizou 90% do herbicida. No algodão, a aplicação do inseticida para pulgão, por exemplo, é feita somente na linha do algodão e não na entrelinha. Estamos economizando ali entre 70 e 75% do inseticida. A agricultora digital está viabilizando esse tipo de economia, com ganho na redução de custo da produção e um ganho ambiental também. Quer dizer, estou aplicando o medicamento onde precisa somente, não estou aplicando na lavoura toda.

Com isso acredita que o debate em torno do uso de defensivos vai amainar?
O uso de defensivos fica cada vez mais pontual. Então esse é um ganho importante. E a conectividade no campo está permitindo fazer a transmissão de mapas do tablet para o escritório e para o pulverizador, tudo on-line. Fazer tudo isso via pen drive, via deslocamento de dados, é complicado, a gestão disso é complicada.

Digitalizar a agricultura exige investimento. Já é possível enxergar retorno num prazo curto?
A agricultura de precisão, quando começou lá atrás, era muito equipamento, muitos investimentos e os ganhos não eram expressivos. Hoje todo esse pacote que existe no mercado da agricultura digital já é economicamente viável. A economia que você tem nos insumos paga o investimento e gera um retorno para o agricultor. É uma nova revolução na agricultura. Nós tivemos as revoluções do passado, primeiro com a mecanização, depois com os químicos, a revolução verde. Elas mudaram o teto de produtividade e o custo de produção. Ao longo da história, o homem foi cada vez mais eficiente na produção de alimentos. E o que a agricultura digital vai permitir? Ela vai trazer um upgrade extraordinário de qualidade da operação. É aquela história da gestão: se você não mede, se você não tem indicador, você não controla, você não faz gestão. E tendo medição, tendo indicador, você faz gestão. Vamos ter o controle da qualidade das operações. Então, além da economia nos insumos, nós vamos ter mais produtividade.

Esse ganho vem só para grandes empresas capazes de trabalhar em escala, como a SLC, ou já dá pra pensar nisso em operações menores, de pequenos e médios agricultores?
Eu diria que os produtores médios e pequenos, em regiões de pequenas propriedades, vão ter que esperar um pouquinho mais para acessar, porque na verdade nesses casos demanda uma organização coletiva. Tem que ter uma cooperativa na região, ou um grande operador da região, que traga essa tecnologia para eles. Se não tem sinal de celular lá na propriedade dele, alguém lá na região tem que instalar uma rede de conectividade para ele poder usar equipamentos conectados. Quem trabalha no setor, as empresas que vendem máquinas agrícolas, as concessionárias, por exemplo, tem estimulado e investido inclusive em conectividade na região em que eles atuam pra levar máquina conectada. Então, de uma forma indireta, o pequeno produtor acaba tendo acesso.

A série de entrevistas PLANT TALKS tem patrocínio da SAP. Confira a íntegra no site da PLANT.