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Quanto valem as cores?

Foodtech Phytolon recebe 14,5 milhões de dólares em rodada de investimentos

As cores são essenciais para nosso bem-estar e sobrevivência como seres humanos sobre a face da terra. Somos impactados constantemente pelas cores e quando as coisas se tornam muito cinzas, reclamamos pela presença de cor. As cores estão em todos os lugares e podem ser naturais ou artificiais.

Entretanto no fascinante universo das cores há dois problemas fundamentais: o primeiro é a limitada paleta de cores que podemos explorar diretamente da natureza e os altos custos destes corantes naturais; e o segundo embora seja fácil se obter praticamente todos os tons de cores que desejamos artificialmente, a indústria dos corantes é uma das mais poluidoras do mundo.

E não subestime o mercado das cores. Uma nova cor de sucesso pode valer milhões de dólares. Cores como o Rosa Pink da Barbie, Azul Tiffany, Roxo Cadbury, Marrom UPS, Verde e Amarelo John Deere e até o Laranja da Universidade do Texas, são alguns exemplos de cores que não se pode utilizar, sem antes pagar os devidos royalties aos seus proprietários. Não é a toa que a Pantone Color Institute cuida com muito cuidado do assunto cores e o trata como um negócio milionário, como ele de fato é.

A Phytolon uma startup israelense que produz corantes biossintetizados está trazendo uma revolução para o mercado de cores. A empresa utiliza uma tecnologia licenciada do Weizmann Institute of Science, um centro de educação com cerca de 1000 estudantes de graduação, 700 de doutorado e possui seis prêmios Nobel, sem contar outros prêmios de relevância internacional.

A tecnologia é basicamente a engenharia genética de leveduras de panificação (Saccharomyces cerevisae) para produção de cores. O que se faz, é copiar a via metabólica que produz cor em outro organismo, normalmente plantas, para dentro das leveduras. Por exemplo, a cor roxa da beterraba está reproduzida dentro destas leveduras, que produzem a cor esperada.

Embora seja um transgênico tradicional, essas leveduras e seus produtos não enfrentarão os problemas que normalmente os derivados dessa tecnologia enfrentam, de acordo com os proprietários da empresa. Isso porque não se utiliza o organismo propriamente dito, mas apenas o composto que ele produz, atesta um dos executivos da empresa. A levedura libera o corante no meio de cultivo e a seguir é possível purifica-lo sem nenhum resíduo das células. Porém, se quiser aumentar mais ainda a eficiência do processo, pode-se romper a célula, librando ainda mais corante e a seguir faz-se a purificação total sem nenhum tipo de resíduo transgênico. Além disso, vale lembrar que as substâncias que dão cores, são aquelas já presentes na natureza.

A Phytolon encontra apoio no fato de outros compostos já utilizados na indústria mundial serem produzidos por essa tecnologia. É o caso da goma Xantana, dos adoçantes, das vitaminas e enzimas. Por isso, a empresa acredita que não será necessária a rotulagem dos produtos que se utilizam de seus corantes, assim como esses outros produtos também não precisam.

A empresa garante que utilizando esse sistema de bioprodução, a partir de células de levedura, é possível produzir todas as cores que não estão facilmente acessíveis na natureza ou que não se encontra nela.

Atualmente a Phytolon possui duas cores, o roxo e o amarelo. Porém, fazendo-se a combinação dessas duas, através da mistura das substâncias que produzem as cores, é possível ir do rosa ao vermelho e chegando até o laranja. A empresa garante ainda que suas cores são tão vibrantes quanto os corantes artificiais e mais estáveis às condições ácidas, de aquecimento e de pH do que os corantes naturais.

Mas a empresa fundada em 2018 ainda está decolando para o mercado e é para isso que a rodada de investimentos em série A será utilizada. São 14,5 milhões de dólares. Esse dinheiro permitirá estabelecer contratos com os fabricantes que utilizam os corantes como ingredientes de seus produtos e também fabricar as cores em escala industrial. A expectativa é que no início de 2023 todas as aprovações necessárias pelo FDA estejam feitas e o uso de corantes a base de processos fermentativos esteja liberado para o consumo. A empresa já submeteu uma petição para aprovação destes aditivos de cores para o órgão regulador americano.

A Phytolon não está sozinha no mercado para produção de cores a partir de microrganismos. Neste mercado já estão Impossible Foods e Motif FoodWorks que produzem a partir de leghemoglobina e mioglobina engenheiradas em leveduras, as cores e sabores da carne. Empresas como a Michroma e a Spira obtiveram microrganismos produtores de cores vermelha e azul, a partir da edição gênica com uso da tecnologia CRISPR. Ainda há a Lycored e a DDW utilizando um fungo (Blakeslea trispora)e um microalga (Galdieria sulphuraria), respectivamente, para produzirem cores.

Com relação aos custos de produção e do próprio produto, os empreendedores são sinceros em assumir que os valores não são ainda competitivos com os corantes artificiais. Porém, considerando-se o apelo ambiental e o fato da empresa atender quatro dos objetivos de desenvolvimento sustentáveis da ONU, isso pode ser superado em breve.

A rodada de série A foi liderada pela DSM Venturing com participação da Cibus Funds, Ginkgo Bioworks e The Trendlines Agrifood Fund. Entre os acionistas da Phytolon estão The Trendlines Group detendo a maior parte da empresa, a Arkin Holdings, a Millennium Foodtech, a Agriline administrada pela Consensus Business Group, a Stern Tech e a OpenValley/Yossi Ackerman.