Radar AgTech: Por que existem tantas startups com soluções Depois da Fazenda?
Na semana passada, publicamos uma reportagem sobre o Radar AgTech 2019, maior levantamento sobre o ecossistema de inovação do agronegócio já feito, realizado pela Embrapa, pela SP Ventures e pela consultoria Homo Ludens com o apoio do StartAgro, da ACE e do Centro Universitário FEI. Vamos explorar algumas das informações apresentadas no estudo. Nesta semana, abordaremos a diferença de startups com soluções depois da fazenda – e os motivos para essa disparidade.
A metodologia do estudo dividiu as startups em três áreas de atuação: Antes da Fazenda, Dentro da Fazenda e Depois da Fazenda. O último registrou a maior quantidade de agtechs: 530, contra 398 dentro da fazenda e 197 antes da fazenda. A explicação se deve a alguns fatores.
A área Depois da Fazenda inclui os alimentos inovadores e novas tendências alimentares (com 224 startups cadastradas, mais do que todo o setor de inovações antes da fazenda), plataformas de negociação e marketplace de vendas, além de restaurantes online, sistemas de entrega, sistemas de embalagem, meio ambiente e reciclagem, e outras. O escopo é bem grande.
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Os alimentos inovadores representam uma das principais tendências em agtech e food tech no momento. Consumidores estão em busca de alternativas e os investidores se interessam por empresas com boas soluções. Só a área de proteínas alternativas têm movimentado milhões nos últimos tempos. A Fazenda Futuro é apenas uma das empresas listadas no estudo. Quem acompanha o StartAgro já viu outras reportagens detalhando o desenvolvimento dessa área. Essa categoria inclui ainda todos os superalimentos, as empresas que fabricam mates e kombuchas, sucos integrais naturais, cafés e chocolates especiais de origens específicas, além de todas as opções gourmet que surgiram recentemente, de pipoca a salgadinhos à base de tubérculos.
Setores que estão registrando crescimento, como as fazendas urbanas, caso da Pink Farms (confira o link sobre nossa visita aqui), e dos sistemas de assinatura, que incluem alimentos orgânicos, cestas de frutas e até cogumelos, também são contemplados nessa categoria Depois da Fazenda.
Outro ponto importante é a proliferação dos sistemas de entrega e restaurantes online. Não à toa, alguns dos principais unicórnios brasileiros e internacionais lidam com essa logística. O ifood e o James, delivery comprado pelo Grupo Pão de Açúcar, estão listados nessa categoria. Os apps de delivery representam uma grande mudança de comportamento dos consumidores, a ponto de muitos chefs questionarem a necessidade de abrir restaurantes.
A tendência não é uma exclusividade do Brasil. Outros ecossistemas importantes do mundo também têm registrado um crescimento de soluções voltadas para o consumidor final, e um interesse maior dos investidores nessa área. Um estudo anual realizado pelo AgFunder apontou que as agtechs captaram US$ 17 bilhões em aportes em 2018 – US$ 10 bilhões em soluções “downstream”. A mesma coisa acontece na China: outro levantamento aponta o sucesso de aplicativos de entrega, responsáveis por quase US$ 5 bilhões captados pelo ecossistema do País em 2018.
Para o setor, a maior visibilidade é para startups que oferecem soluções Antes da Fazenda e Dentro da Fazenda, mas os números mostram que as duas áreas ficam atrás das iniciativas com foco no consumidor final. “Essa configuração pode estar relacionada com as barreiras de entrada relativas a recursos financeiros, tecnológicos e humanos necessários para a constituição de empresas inovadoras nas três etapas”, diz o estudo.