AgriFoodTech descomplicado e organizado para investidores
O AgriFoodTech surge como um conceito novo e muitas vezes é pouco compreendido na sua essência, especialmente para os investidores interessados nas startups do setor.
Esse conceito envolve o desenvolvimento de inovações e tecnologias que otimizam processos industriais, que promovem mudanças significativas no sistema alimentar, que auxiliam na tomada de decisões, que criam novas formas de acesso aos alimentos, além das já conhecidas e consolidadas tecnologias aplicadas ao campo. Além disso, ainda inclui uma clara visão sobre o consumidor, respeitando demandas importantes, como a origem dos produtos e as formas responsáveis de produção, a sustentabilidade e a conservação dos recursos ecológicos. No AgriFoodTech estão as startups que impulsionam um segmento de crescimento exponencial, que estão nos levando a uma revisão completa sobre a forma de se produzir alimentos.
Não há mais como esconder a ineficiência do setor agroalimentar tradicional. Isso faz com que a demanda por tecnologia cresça aceleradamente, tornando a inovação essencial. Essa imensa cadeia de sustentação da humanidade passa por sérios desafios que envolvem o crescimento da população e a manutenção de recursos naturais finitos. A pandemia de covid19 serviu como um catalizador desta não mais silenciosa revolução, por conta de uma população polvorosa, bradando em alto som suas preocupações com a questão ambiental e social de cada produto que chega a sua mesa. Há ainda o outro lado da moeda, ainda pouco falado, como o grande desperdício de alimentos nas cidades, a procura por proteínas alternativas e a preocupação em relação a saúde, fugindo dos alimentos processados.
Não há mais como esconder a ineficiência do setor agroalimentar tradicional. Isso faz com que a demanda por tecnologia cresça aceleradamente, tornando a inovação essencial. Essa imensa cadeia de sustentação da humanidade passa por sérios desafios que envolvem o crescimento da população e a manutenção de recursos naturais finitos
Segundo Mateus Mondin, professor do Departamento de Genética da ESALQ-USP, o AgFoodTech é de fato bastante complexo e já não cabem mais em velhos conceitos como antes e após a porteira, pois ele é circular, não tem começo e nem fim. É vivo, ativo, dinâmico e não para. Sendo um equívoco tentar marcar seu início ou o seu fim.
Essa complexidade, cria grandes oportunidades para empreendedores, cientistas, empresários e investidores, que estejam interessados em gerar novas tecnologias para qualquer ponto de toda essa cadeia agroalimentar.
Assim como todo sistema complexo, o AgFoodTech carece de um sistema que possa organizá-lo de forma clara e acessível a toda audiência. O Startagro sabendo disso, se desafiou e apresenta a seguir um pequeno glossário organizador, elaborado com base nos modelos propostos recentemente pelo AgFunder.
Categorias AgriFoodTech
A nova classificação deve considerar dois grupos principais de startups, que podem estar agrupadas em upstream ou downstream. Isso significa o quão distante elas estão dos principais interessados. Assim, startups upstream contemplam todas as iniciativas que se aproximam mais do produtor. Enquanto as startups downstream são aquelas mais próximas das demandas dos consumidores.
Startups upstream: contemplam todas as iniciativas que se aproximam mais do produtor
Startups downstream: iniciativas que estão mais próximas das demandas dos consumidores
Essas duas classes principais podem ser detalhadas conforme apresentaremos a seguir:
Upstream
Ag Biotechnology
Neste grupo estão as startups de melhoramento genético de plantas e animais e aquelas que aplicam tecnologias moleculares para esses fins, como por exemplo a edição de genes. Fazem parte do grupo empresas que oferecem insumos, como sementes, biofertilizantes e biopesticidas e na área animal aquelas associadas à reprodução e a saúde animal.
Agribusiness Marketplaces
Aqui estão inseridas todas as iniciativas como plataformas de negociação de commodities, entrada online, aquisição e locação de equipamentos. Essa categoria tem como objetivo abranger as startups que permitem que agricultores, varejistas e distribuidores realizem suas compras e vendas online aumentando seu nicho de mercado nacionalmente ou globalmente.
Bioenergy & Biomaterials
Extração e processamento não alimentar, tecnologia em torno de matérias-primas, extração, processamento e utilização de subprodutos, são os principais tópicos de inovações incluídos nesse setor. A categoria ainda abrange insumos relacionados aos produtos farmacêuticos e não alimentícios, e também os derivados de Cannabis.
Farm Management Software, Sensing & IoT
Essa categoria engloba a utilização de sensores e imagens de satélite, ferramentas online de planejamento, software de suporte à decisão, algoritmos de análise de dados, aprendizado de máquina e tecnologia de conectividade Internet das Coisas (IoT).
Farm Robotics, Mechanization & Equipment
Engloba as startups em setores e sistemas agrícolas que trabalham com implementos, automação de tarefas no campo, fabricação de drones visando aumentar a precisão das atividades.
Midstream Technologies
As startups que visam tecnologias voltadas a segurança alimentar, rastreabilidade dos alimentos, logística e transporte, estão nesse grupo. Fazem parte também as tecnologias para processamento, utilizando dispositivos de teste para alimentos, softwares e sensores.
Novel Farming Systems
Nesta seção estão as startups que buscam novas maneiras de produzir alimentos e ingredientes mais sustentáveis. Como exemplo temos as fazendas de insetos e a produção de novos ingredientes vivos, como algas e microorganismos, tudo voltado para alimentação.
Innovative Food
Visto a grande demanda de alimentos ricos em proteínas com um apelo mais sustentável, nessa categoria se localizam as startups que buscam criar alimentos inovadores, tais como carnes cultivadas, hambúrgueres vegetais, suplementos e novos ingredientes.
Downstream
In-Store Retail & Restaurant Tech
A categoria que busca inovar em relação a operações dentro de lojas, no gerenciando de estoques, no RH e no desperdício de alimentos. Aqui estão as startups que desenvolvem robôs de empilhamento de prateleiras, impressoras 3D de alimentos, sistemas POS, monitoramento de resíduos de alimentos.
IoT Restaurant Marketplaces
Startups dessa categoria criam plataformas de tecnologia que entregam comida de muitos fornecedores no menor tempo possível. Inclui também as startups que estão buscando inovar a entrega de comida para viagem junto com os mercados de restaurantes online.
EGrocery
A demanda por agilidade nas compras e a busca por alimentos mais saudáveis é a base para esse grupo. Aqui estão as startups que englobam lojas online e mercados para venda e entrega de produtos agrícolas processados e não processados diretamente para o consumidor.
Home & Cooking Tech
A fim de englobar os consumidores que desejam mais inovação para cozinhar em casa, essa categoria de startups cria eletrodomésticos inteligentes, tecnologias de panificação automatizadas, tecnologias de nutrição e dispositivos de teste de alimentos, tudo isso feito de forma doméstica. Sim, todo esse nicho de inovações faz parte do AgriFoodTech.
Online Restaurants & Mealkits
Nessa categoria estão as startups que oferecem refeições culinárias e enviam os ingredientes em formato de porções pré-determinada para se cozinhar em casa.
Cloud Retail Infrastructure
As startups que englobam tecnologia capacitada sob demanda, cozinhas fantasmas e robôs de entrega estão agrupadas nessa categoria. As tecnologias oferecidas aqui permitem uma nova classe de serviços de alimentação em nuvem. Neste grupo também se encontram as startups que pretendem ampliar a eficiência de compras feitas pessoalmente.
Investimentos
Contrariando o fluxo global, os investimentos em AgriFoodTech cresceram em relação à 2019, impulsionados pela pandemia causada pelo Covid-19. Os olhos dos investidores se abriram para as problemáticas associadas ao sistema alimentar, antes esquecidas. Com isso, o AgriFoodTech deixou de ser visto como um segmento de risco e cresceu 15,5% em 2020, trazendo aproximadamente 26 bilhões de dólares em investimentos para o mercado. Outro destaque desse crescimento, foi que no mesmo período as startups upstream ultrapassaram em investimentos as startups downstream pela primeira vez em sete anos.
O AgriFoodTech cresceu 15,5% em 2020, trazendo aproximadamente 26 bilhões de dólares em investimentos para o mercado .
Alguns números:
• O investimento em startups upstream aumentou 68% no comparativo anual
• O investimento em startups Innovative Food dobrou para US$ 2,3 bilhões.
• As startups em Midstream Tech recebram US$ 5,3 bilhões em investimentos e fecharam 30% mais ofertas em 2020.
• O segmento de AgBiotech perdeu força nos investimentos, mas ainda assim alcançou a marca de US$ 1,6 bilhão, o que significa um aumento de 60% em relação ao ano anterior
• As startups do eGrocery levantaram US$ 5,1 bilhões de investimentos estimuladas pela demanda agressiva trazida pela pandemia.
Os investimentos acelerados no setor é o resultado de uma preocupação dos consumidores, que se viram ameaçados por uma possível falta de suprimentos da cadeia agroalimentar. Além disso, a pandemia causada pela covid-19 trouxe novas demandas para o mercado, principalmente em relação às compras online e serviços prestados de modo remoto. Não há dúvidas, como relatado no início dessa matéria, que o vírus causador de toda a crise sanitária e social iniciada em 2020, foi o catalizador desse fenômeno no AgriFoodTech. A extensão do problema ao longo de 2021 sugere que os investimentos neste mercado devem manter o mesmo ritmo de crescimento, sendo muito mais promissor que outros segmentos econômicos.